Agência: Press Parga
Período de operação: 1942 – 1945
Website: nunca teve
Tipo: agência de notícias privada
Segmento/Setor: generalista
Serviços: texto
Escala: nacional
Redação central: Rio de Janeiro – RJ
CNPJ:
Razão social: [DESCONHECIDA]
Proprietários: Amorim Parga
Fundadores: Amorim Parga, Mário Martins, Vitor do Espírito Santo
Escritórios no Brasil: Belo Horizonte, Belém, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, Natal, Recife, Salvador, São Paulo

A Press Parga foi uma agência de notícias privada de vida curta, porém marcante no jornalismo de agências brasileiro. Foi fundada em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, pelo jornalista maranhense Benedito Inácio de Amorim Parga e pelo jornalista e advogado baiano Vitor do Espírito Santo, com sede no Rio de Janeiro. Nela também trabalhou, ainda que por pouco tempo, o paulista Cláudio Abramo, que depois faria carreira no Estadão e na Folha de S.Paulo (Molina, 2015, p. 427; Kushnir, 2004, p. 371). Especializada em notícias de caráter generalista, a agência operou até 1945, depois do que não há mais registros de atividades.

A julgar pelas procedências dos despachos, parecia que a Press Parga tinha praças em diversas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Goiânia, Cuiabá e Natal. Porém, segundo Molina (2015, p. 420), a agência “era um empreendimento precário: não tinha repórteres e reescrevia as informações publicadas pelos jornais”, prática bastante comum desde o século XIX.

Amorim Parga era uma figura anedótica da história da imprensa maranhense e brasileira. Homem de letras do estilo antigo, era da mesma geração de Ferreira Gullar, José Sarney, Neiva Moreira, Odilo Costa Filho, Lago Burnett, Renato Archer e Franklin de Oliveira, todos conterrâneos. Estudou na Faculdade de Direito de São Luís, nos anos 30. De espírito indócil, Parga comprou briga com inúmeros políticos e colegas jornalistas no Maranhão, de onde saiu “fugido” para o Rio de Janeiro em 1934. Na então capital federal, Parga fundou, com colegas, a chamada “embaixada acadêmica maranhense”, que reunia estudantes que seriam futuros intelectuais e políticos do estado de meados do século XX, como os nomes já citados. Ainda no Rio, envolveu-se com a agitação comunista da ANL (Aliança Nacional Libertadora, frente antifascista liderada pelo PCB) e foi “deportado” de volta para o Maranhão em 1935.

Já Vitor do Espírito Santo era um repórter experiente que trabalhara nos Diários Associados e na agência Meridional e saíra de lá por desentendimentos com Assis Chateaubriand. Em 1930, Vítor cobrira a chamada “rebelião de Princesa”, na Paraíba, um dos eventos detonadores da Revolução de 30. Depois, chegou a ser redator-chefe e mais tarde diretor de O Jornal, o “órgão-líder” dos Associados. Antes de sair do grupo, foi enviado a Salvador para dirigir os jornais O Estado da Bahia e o Diário de Notícias soteropolitano (Malin, 2018). Nessas experiências, aprendeu a gerir empresas jornalísticas e conheceu a realidade da imprensa fora do sudeste. Mais tarde, seguindo profissão de família, abriu um escritório de advocacia na área trabalhista.

Pela agência, Espírito Santo assinou durante três anos sua coluna intitulada “Nota carioca”, distribuída para jornais de vários estados em regime de syndication.

No início, em 1942, a agência chegou a usar o nome “Press Amoparga”, depois simplificado. Suas primeiras referências aparecem com esse nome em 5 de abril daquele ano no jornal O Imparcial, de São Luís. Inicialmente, fornecia matérias para jornais maranhenses: O Imparcial, O Combate e Diário de S.Luiz. Mais tarde, expandiu-se para outros clientes do nordeste (PE, PI, RN, CE, SE), além de MT, GO e SC, mas principalmente do RJ e MG. Em 1944, os Diários Associados compraram O Imparcial, que passou a usar os serviços da Meridional.

Entre os jornais com muito aproveitamento dos despachos da Press Parga (pelo acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional) estão o Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Diário de Noticias, Diário Carioca, Gazeta de Noticias, A Noite e A Manhã (todos do RJ), A Notícia (SC), Diário do Paraná e O Dia (PR), Lavoura e Commercio (SP), Jornal Pequeno (PE), Gazeta (PI), A Ordem (RN), Gazeta do Norte (MG), O Estado de Goyaz e O Estado de Mato Grosso (MT). O jornal catarinense, em particular, deu muito destaque à cobertura da Press Parga sobre as buscas pelo explorador inglês Coronel Fawcett, que sumiu na floresta do Mato Grosso em 1925 e foi alvo de nova expedição por parte do coronel Mário Barata em 1943 (foto no alto na página).

A organização do nosso correspondente especial no Rio de Janei­ro, sr. Amorim Parga, foi, recentemente, distinguida com um voto de 10llvol’ e agradecimento, em assembleia geral ordinária da Associação Brasileira de Imprensa. Realmente, o Press Amorim Parga é uma organização jornalística que honra a imprensa brasileira, fornecendo informações úteis a numerosos jornais, sendo que O Estado mantém, em Florianópolis, exclusividade absoluta de publicação do seu serviço. Damos, abaixo, por cópia, o ofício em que o nosso ilustre confrade, dr. Herbert Moses, presidente da A.B.I., comunica àquele nosso correspondente a aprovação unânime da assembleia da A.B.I.

O Estado (SC), abril de 1943

Também trabalharam na Agência Press Parga: Maurício de Medeiros, Rafael Correia de Oliveira e Segadas Viana.

Em fevereiro de 1945, segundo matéria do Diário da Noite (abaixo), a assembleia de sócios da Press Parga destituiu Amorim Parga da direção e repassou-a a Martins e Espírito Santo. As circunstâncias da mudança não estão claras.

Nos anos 50, Amorim Parga trabalhou com Neiva Moreira no Jornal do Povo, que fazia oposição a Assis Chateaubriand. Em 1955, quando o magnata decidiu candidatar-se a senador pelo PSD do Maranhão (já fechada a agência havia dez anos), Parga envolveu-se em mais uma briga, dessa vez com o colega David Nasser, o mais conhecido repórter dos Diários Associados. Nasser fora ao Maranhão com a missão de empenhar-se na campanha do patrão.

David Nasser, o mais famoso repórter de O Cruzeiro, autor da reportagem “O velho capitão”, que exaltava a
figura humana e política do patrão, em São Luís, através de
O Imparcial e O Pacotilha, encarregava­-se de
falar mal, criticar, atacar e desmoralizar os ex-­colegas de redação, tratando­-os como traidores e de caráter
duvidoso. Os jornalistas maranhenses, contudo, não aceitavam aquelas diatribes sem respostas. Pelo
Jornal do Povo, respondiam aos ataques e vilipêndios no mesmo tom e tratavam de mostrar à opinião pública que David
Nasser estava aqui a serviço de um candidato que nada tinha a ver com o Maranhão e de que sua atividade
profissional era marcada pela venalidade e pela corrupção.
Ao integrar­se ao movimento contra a eleição de Chateaubriand, Amorim Parga assumiu a defesa de Franklin
de Oliveira e Neiva Moreira dos severos ataques a David Nasser, mais ainda, desafiando­-o para um confronto
físico em qualquer lugar da cidade. Antes das eleições, escreveu um terrível artigo contra o repórter de O Cruzeiro. Dentre outras coisas disse: “Quem é David Nasser para me julgar? Ele que apenas passou de repórter de polícia de
O Globo para ser repórter de escândalos e chantagens de Chatô. Roubou mais de 300 contos da sociedade de compositores, furtou um automóvel e está rico como simples jornalista”. E arrematou ferozmente: “Comigo nem tudo se lava com água. Para os homens dignos a honra só se lava com sangue ou se paga com a vida. Escolha as armas. Eu, de minha parte, atacarei onde o encontrar. Vamos ajustar nossas contas. Vamos ver quem tem coragem”.
Como David Nasser calou-­se diante do desafio de Amorim Parga, este, no dia das eleições (21 de março de
1955), à tarde, resolveu ir ao Hotel Central, onde o repórter de
O Cruzeiro estava hospedado. Ao vê-­lo na
portaria do hotel, acompanhado do radialista carioca Raul Brunini, Amorim, que estava armado, entregou o
revolver a um amigo e imediatamente partiu para cima do jornalista dos Associados, que recebeu algumas
bofetadas na cara. Depois se atracaram, mas foram apartados pelos circunstantes. Após a briga, que logo virou notícia nacional, como mais um ingrediente da escandalosa eleição de Chateaubriand, surgiram múltiplas versões sobre o vencedor da briga. Enquanto os jornais de São Luís apontavam Amorim Parga como herói e o grande vingador do povo maranhense, os veículos de comunicação da poderosa cadeia Associada, afirmavam o contrário.

(Buzar, 2013)

No final dos anos 1950, enquanto a imprensa carioca se modernizava, Amorim Parga deu aulas de jornalismo num cursinho no Rio.

Como citar:

AGUIAR, Pedro. Press Parga. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/2025/03/31/press-parga/.

Referências bibliográficas:

BUZAR, Benedito. David Nasser x Amorim Parga. Blog do Buzar, 4 de março de 2013. Disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2013/03/04/david­nasser­x­amorim­parga­4/, acesso em abr./2016.
DIÁRIO DA NOITE. A Press Parga tem novos diretores. Rio de Janeiro, 27 de fevereio de 1945. Disponível em http://memoria.bn.gov.br/docreader/221961_02/26804, acesso em mar./2025.
KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à constituição de 1988. São Paulo: Boitempo, 2004.
MALIN, Mauro. Armênio Guedes: um comunista singular. Rio de Janeiro: Ponteio Edições, 2018.
MOLINA, Matías. História dos Jornais no Brasil, vol.1. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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