Agência: SIGMA Jornaes Reunidos (SIGMA Jornais Reunidos, na grafia atual)
Período de operação: 1935 – s/d
Website: nunca teve
Tipo: agência partidária/cooperativa de jornais
Segmento/Setor: fascismo
Serviços: texto, foto
Escala: nacional
Redação central: Rio de Janeiro – RJ
CNPJ: —
Razão social: SIGMA Jornaes Reunidos
Proprietários: Ação Integralista Brasileira
Fundadores: [DESCONHECIDOS]
Escritórios no Brasil: [DESCONHECIDOS]
A SIGMA Jornaes Reunidos (ou Jornais, na grafia atual) foi uma agência de notícias do movimento integralista (fascista) da década de 1930, organizada pelos jornais da Ação Integralista Brasileira (AIB), subordinada à Secretaria Nacional de Propaganda do partido. O nome deriva da letra grega sigma (Σ), usada como símbolo do integralismo por representar, na matemática, a operação de somatório (união de todos os valores).
Os principais jornais que produziam material para a Sigma eram Acção (São Paulo), A Offensiva (Rio) e A Lucta (Porto Alegre), todos integralistas. Embora a revista Anauê! fosse importante no integralismo, não há informações de que ela participasse da Sigma.
Uma das fontes mais citadas na bibliografia sobre a Sigma é o livro de Rosa Cavalari de 1999, “Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937)”, que descreve a organização como um “consórcio” (às vezes vertido para o termo equivalente em inglês, pool). No entanto, se for considerado o contexto da época, em que a terminologia Konzern em alemão tanto significava “consórcio” quanto “cadeia de imprensa” (o que hoje seria chamado de conglomerado de mídia), é possível que remetesse à ideia de um syndicate, uma rede interna de distribuição de material jornalístico, como usado nas agências de Alfred Hugenberg (Telegraphen-Union e Syndikat Deutscher Überseedienst).
Além disso, há divergência nas fontes em relação ao fato de se a Sigma era subordinada à Secretaria Nacional de Propaganda da AIB ou à Secretaria Nacional de Imprensa (instituída apenas em 1936). Segundo Oliveira (2009, p. 205), “em ambas as secretarias não aparecem referências em seus organogramas à Sigma”.
Provavelmente, grande parte da divergência deriva do fato de que a coleção de jornais e revistas integralistas até hoje não está digitalizada em hemerotecas públicas, dificultando a consulta ao material original. Resta aos pesquisadores, portanto, reunir cacos de informações.
Leal (2006, p. 47-48) transcreve editorial do jornal A Offensiva por ocasião da criação da Sigma Jornaes Reunidos, ressaltando um contraste que Miguel Reale (ideólogo integralista que décadas mais tarde seria um jurista respeitado) com o grupo Diários Associados, que quatro anos antes lançara a Agência Meridional com o mesmo propósito: “Se quiser saber o que será a rede dos jornais do Sigma, eu sintetizarei assim: ‘Será exatamente o contrário do que é hoje a cadeia dos Associados’”.
A Secretaria Nacional de Propaganda acaba de organizar o maior serviço de publicidade até hoje realizado no Brasil, pois compreende um conjunto de 88 jornais atualmente em circulação em todo o território da República. Homogeneamente já unidos pelo SIGMA, os jornais integralistas do Brasil, cujo número cresce a cada dia, e já sobe hoje a 88, ficaram agora conjugados, para fins de publicidade, sob a direção da Secretaria Nacional de Propaganda, devidamente autorizada pela Chefia Nacional, constituindo assim, o maior monobloco jornalístico até hoje criado na América do Sul. Mais um passo para a unificação nacional, pelo pensamento, pela cultura e pela orientação doutrinária. Mais um passo para o grande sistema de imprensa, cujo futuro tem no Integralismo os seus dias de glória, de prosperidade e esplendor, responsável como é pelos superiores destinos da Pátria.
(A Offensiva, 28/09/1935; apud Leal, 2006, p. 47-48)
Obviamente, a expressão “serviço de publicidade” não deve ser tomada com a conotação que tem no século XXI, mas no contexto dos anos 1930: um aparato de comunicação e uma máquina de propaganda ideológica.
Segundo Ferreira e Frazão (2024, p. 199), no seu auge a Sigma chegou a incorporar 138 jornais e quatro revistas (mais uma vez, não está clara a inclusão de Anauê! entre elas). Mas Oliveira (2009, p. 204-205), reproduzindo uma listagem publicada em A Offensiva (abaixo) contabiliza “apenas” 65 jornais, o suficiente para reivindicar o título de “maior monobloco jornalístico até hoje criado na América do Sul” (a título de comparação, no seu auge, em 1968, o grupo Associados tinha 97 veículos).

Se valer a analogia com o grupo de Assis Chateaubriand e for considerada a própria nomenclatura adotada pela Sigma (como na foto no alto desta página), é provável que ela funcionasse como uma agência de notícias do tipo syndicate, distribuindo textos e fotos internamente entre os próprios jornais participantes, como fazia a Meridional (e, depois, nas décadas de 1950 e 1960, fariam também a Inter-Press e a Rede Nacional da Última Hora).
Entretanto, o historiador recorre ao salutar ceticismo científico para apontar que as informações comprovadas sobre as operações da Sigma Jornais Reunidos era escassa, e chega a pôr em dúvida se ela de fato não passou de uma promessa.
Mesmo assim, objetivamente, não temos nenhum dado sobre como funcionava esta empresa jornalística. Supomos que teria o objetivo de organizar e sistematizar a circulação dos periódicos integralistas. Contudo, afora o fato dos jornais passarem a estampar Sigma Jornaes Reunidos, não possuímos nada que comprove a sua real existência.
(Oliveira, 2009, p. 206)
Não há registro de quando a Sigma Jornais Reunidos parou de funcionar – se é que de fato existiu.
Como citar:
AGUIAR, Pedro. SIGMA Jornaes Reunidos. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/.
Referências bibliográficas:
AGUIAR, Pedro. O Modelo Hugenberg: conglomerados de mídia e agências de notícias brasileiras. MOREIRA, Sônia Virginia (org.). Indústria da Comunicação no Brasil: dinâmicas da academia e do mercado. São Paulo: Intercom, 2015, p. 169-188.
DOTTA, Renato. Acção: A Lenta Agonia de um Jornal Integralista (1937-1938). XXVI Simpósio Nacional de História, Anais… São Paulo, ANPUH, 2011.
LEAL, Carine. Imprensa integralista (1932-1937): propaganda ideológica e imprensa partidária de um movimento fascista no Brasil dos anos 30. 115 fl. Monografia (graduação em Comunicação Social/Jornalismo). Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006. http://hdl.handle.net/10183/19101
MEMÓRIA DA IMPRENSA. Fascismo à brasileira constrói rede de imprensa. São Paulo, Arquivo Público do Estado de São Paulo, s/d. https://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoria_imprensa/edicao_00/accao_anaue.php
OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. Imprensa integralista, imprensa militante (1932-1937). 388 fl. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
PICOLIN, João Carlos; TOMAZIELO, Paulo; SILVA, Renata; ELSTON-GOMES, Renato. Comunicação política no integralismo: as estratégias e instrumentos de comunicação para a construção de um estado integral brasileiro. XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Anais… Belo Horizonte: Intercom, 2003.
SILVA, Larissa Frazão. Perceber e sentir: a estética do movimento integralista. Manduarisawa – revista discente do curso de história da UFAM, v. 1, n. 7, 2023.
A imagem no alto desta página foi publicada pelo perfil @cacgcarla no Pinterest e digitalizada da revista Anauê!, assim creditada: “Fonte: Revista Anauê!, n°16, junho de 1937, p. 42”.