Agência: Sport Press/LancePress!
Período de operação: desde 1955 (Sport Press 1955-2000; LancePress!, 2000-até hoje)
Website: www.agencialance.com.br
Tipo: agência de esportes/syndicate
Segmento/Setor: esportes
Serviços: texto, foto
Escala: nacional
Redação central: Rio de Janeiro – RJ
CNPJ: 42.805.902/0001-45
Razão social: Lance Web Ltda.
Proprietários: Areté Editorial (Walter de Mattos Jr.)
Fundadores: José Dias
A Sport Press foi fundada em 1955 no Rio de Janeiro pelo antigo repórter de rádio José da Silva Dias, ou apenas José Dias (1927-2005), como “a primeira agência noticiosa esportiva do Brasil” e, segundo a própria empresa, também da América do Sul. De fato, a SportPress foi a primeira agência de notícias esportivas do país e uma das primeiras agências especializadas.
José Dias nasceu em Lamego, no norte de Portugal, mas foi registrado em Nova Iguaçu (RJ). No início de carreira, Dias fazia “dobradinha” como repórter de campo para o locutor Oduvaldo Cozzi, um dos principais narradores esportivos da era de ouro do rádio, nas emissoras Continental, Tamoio, Tupi e Guanabara, nas décadas de 1950 e 1960. Em 1953, começou a trabalhar para a ASApress como redator, ocasião em que aprendeu o ofício do jornalismo de agências (Dias; Abreu Jr., 2000, p. 39). Lá, segundo o próprio Dias, pensou em criar uma subsidiária para a cobertura esportiva e “apresentou a ideia ao então diretor da ASApress, Francisco Machado”, que a rejeitou. Dias saiu da agência católica em novembro de 1954 e, usando um dinheiro que recebeu de herança, decidiu investir em fundar sua própria empresa do ramo, dedicada especificamente à cobertura de futebol.
A sede original ficava na rua da Assembleia, no centro, depois (1971) transferida para a Avenida Rio Branco. No final do século, a Sport Press funcionava no bairro do Rio Comprido, entre o centro e a zona norte da capital fluminense.
Em sua autobiografia (Dias; Abreu Jr., 2000, p. 39-45) rememora a criação da agência e os primeiros anos até construir uma clientela sustentável.
No mês de novembro de 1954, alugou a sala na Rua da Assembleia, tendo como fiador Antônio Soares Calçada, hoje presidente de honra do Vasco e, em dezembro, precariamente, a Sport Press começou a funcionar. […] Durante o primeiro ano de funcionamento – embora com grandes prejuízos – todos os veículos de comunicação do Rio, rádios e jornais, receberam o noticiário da Sport Press, mesmo aqueles que não se interessaram pela assinatura. Essa foi a forma que José Dias encontrou de fazer com que a agência se tornasse conhecida, inicialmente no mercado do Rio de Janeiro.
(Dias; Abreu Jr., 2000, p. 39-45)
Nesse início, a Sport Press oferecia seus serviços de graça para se tornar conhecida e organizava prêmios simbólicos para bajular potenciais clientes (abaixo, recorte do caderno de esportes do Jornal do Brasil de 1959). Gradualmente, desenvolveu uma relação próxima com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (então ainda separado do Distrito Federal e da Guanabara) e com a CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da atual CBF).

Entre 1967 e 1970, José Dias esteve pessoalmente envolvido na implantação da Loteria Esportiva no Brasil, em “parceria” com a CBD, de certa forma antecipando a cultura de apostas em jogos de futebol que hoje é explorada pelas “bets” – e os escândalos que a acompanham. O objetivo declarado era reverter a receita em financiamento para o próprio futebol brasileiro.
Em 1970 (edição de 21/8, p. 14), a revista esportiva Placar, da editora Abril, publicou que José Dias era “o homem que escolhe os jogos”, referindo-se às 13 partidas de rodadas de competições estaduais e nacionais incluídas na tabela da loteria (atual Loteca). A Sport Press era diretamente envolvida na montagem das tabelas de apostas.

O próprio Dias admitia que a Loteria Esportiva financiou o crescimento da sua agência. “Depois do Campeonato Brasileiro e da Loteria Esportiva, a Sport Press começou a viver sua fase estável. Em 1974, passou a ocupar oito salas na cobertura do edifício nº 91 da Avenida Passos, onde permaneceu por 10 anos” (Dias; Abreu Jr., 2000, p. 44). A agência foi equipada com aparelhos de telex, usados para transmitir resultados dos jogos a jornais e outros clientes de São Paulo e demais capitais estaduais do Brasil.
De 1975 a 1978 a agência viu multiplicar o número de assinantes e hoje mantém, entre os seus clientes, os maiores jornais do país. Muitos deles, de inúmeros estados, publicam diariamente páginas inteiras com o seu noticiário, antes transmitido por telex, e que agora chega a seus clientes de todos os pontos do país, mesmo os mais longínquos, através do sistema STM-400 da Embratel, por transmissão online, via Renpac e por fax-modem.
(Dias; Abreu Jr., 2000, p. 44)
Em 1982, seguindo uma dica do antigo editor-chefe da revista Milton Coelho da Graça, a Placar publicou uma extensa reportagem sobre fraude nas apostas da Loteria Esportiva (chamados “testes”) que tinham a ver com a seleção de partidas para a tabela de cada semana, cuja informação era vazada por um funcionário da Sport Press para dirigentes dos clubes que disputariam os jogos. José Dias reagiu contra a revista da Abril, que em dezembro do mesmo ano publicou uma nova matéria reiterando e comprovando a denúncia.

Em 1998, em sua coluna na Folha de S.Paulo, o jornalista Juca Kfouri (que fora editor da Placar e comandara a investigação sobre a Loteria Esportiva) publicou que José Dias tentava vender a Sport Press e procurava um comprador. Um dos interessados seria Ricardo Teixeira, com quem Dias tinha relação pessoal.
São fortes os rumores no Rio de Janeiro de que a agência noticiosa Sport Press mudará de mãos. O jornalista José Dias estaria vendendo a empresa para o presidente da CBF, para o repórter Sebastião Reis e para o editor de Esportes de “O Estado de S. Paulo”, Roberto Benevides, que, então e ao cabo, deixariam o jornal.
(Kfouri, 1998)
No entanto, o negócio acabou não se concretizando, e Dias continuou pondo sua agência à venda.
No ano 2000, a Sport Press foi finalmente vendida para o grupo do jornal esportivo Lance! (razão social: Areté Editorial), de propriedade de Walter de Mattos Jr., e teve o nome alterado para LancePress! (também aparecem nas referências as grafias Lance!Press, Lance Press, com e sem espaço e a exclamação). Na prática, era a mesma agência com outro nome (como ocorrera com a Meridional que virou DA Press), tanto que boa parte da equipe foi mantida.
Mattos Jr., por sua vez, tinha sido repórter e editor do jornal O Dia, importante diário popular carioca que chegara a ser o de maior circulação no país nos anos 1990. Mais ainda: fora genro de Ary de Carvalho, dono do jornal, por ter sido casado com “Gigi” (Lígia), a filha do meio. Em entrevista ao website Jornalistas & Cia. em 2007, Mattos Jr. deixou claro o papel da agência com sua marca reformulada: nem tanto financeiro, mas estratégico.
A Lancepress não é um veículo, mas uma míni-Reuters do esporte. É uma Reuters perna importante do nosso negócio. Não tem um faturamento muito expressivo, mas é estratégica: somos o maior vendedor de fotografias e há mais de 40 empresas de mídia que são assinantes regulares do serviço. Pretendemos desenvolver outros tipos de produtos dentro dela, como áudio e vídeo, em breve. E uma área de negócios que este ano está merecendo um investimento importante é a Lance Editorial, que faz os produtos especiais, caso, por exemplo, dos livros – já temos seis títulos editados, vamos reeditar um, acabamos de editar outro e acho que teremos mais uns três este ano.
(Jornalistas & Cia., 2006)
Em abril de 2000, como mostra matéria de informática do Jornal do Commercio carioca, a nova LancePress! servia principalmente para alimentar o portal LanceNet, versão digital do Lance!. É bem verdade que desde 1998 o jornal (lançado em 1997) já tinha registrado uma marca “Agência Lance!”, mas ainda sem estrutura e equipe especializada para fazer cobertura original, apenas syndication. Segundo a matéria, “a aquisição da agência de notícias Sport Press foi fundamental para a cobertura nacional e em tempo real de todos os eventos esportivos”.

No entanto, em seu material institucional, a LancePress! escolhia ignorar suas raízes na Sport Press e se apresentava como sendo fundada apenas no ano 2000, como sugere este texto no website publicado em 2014:
Com 14 anos no mercado, a LANCEPRESS! se destaca por ser uma agência especializada na cobertura esportiva, marca registrada do grupo LANCE!, do qual compartilha o conhecimento do maior diário esportivo da América Latina, que dá nome ao grupo. Por registrar exclusivamente eventos ligados ao esporte, sobretudo do futebol nacional, disponibiliza conteúdo com olhar diferenciado e especializado no registro. Com parceiros nas cinco regiões do país, nossa cobertura se notabiliza pela amplitude, qualidade e agilidade do material oferecido aos nossos clientes. A LANCEPRESS! atualmente comercializa conteúdo de texto, foto e vídeo para veículos do Brasil e do exterior e vem ampliando sua carteira de clientes entre agências de publicidade e comunicação, assessorias e editoras. Mais que uma agência convencional, a LANCEPRESS! adapta e desenvolve projetos personalizados às necessidades do cliente, trazendo soluções no fornecimento de conteúdo esportivo.
Fonte: LancePress! / A Agência, 2014
Trabalharam na agência, antes e depois da transição, os jornalistas Narcizo Vernizzi, Maurício Louro, Eduardo Lamas Neiva e Eduardo Mansell, entre muitos outros.
José Dias morreu em 21 de novembro de 2005, no Rio, de falência múltipla dos órgãos.
A partir de 2020, o Lance! deixou de ser impresso e se tornou apenas um website. Por sua vez, o site da LancePress! saiu do ar em 2023, mas os créditos de fotos para a agência continuam sendo publicados em 2025.

Como citar:
AGUIAR, Pedro. Sport Press/LancePress!. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/2025/04/19/sportpress/.
Referências bibliográficas:
DIAS, José; ABREU JR., João Baptista de. Futebol de craques… e dos cartolas pernas-de-pau: 50 anos de jornalismo esportivo. Rio de Janeiro: Mauad, 2000.
JORNAL DO COMMERCIO. Jornal do Commercio, 20 de abril de 2000, p. 44, 4ª col. Disponível em http://memoria.bn.gov.br/DocReader/364568_19/4678
JORNALISTAS & CIA. Lance: a aposta na mídia esportiva e no jornalismo. Protagonistas da Imprensa Brasileira. 2006. Disponível em http://www.jornalistasecia.com.br/protagonista05.htm, acesso em jun./2016.
KFOURI, Juca. Pelé com a palavra. São Paulo, Folha de S.Paulo, 2 de fevereiro de 1998. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk02029806.htm, acessado em jan./2019.
STYCER, Mauricio. História do Lance!: Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Alameda Editorial, 2009.