Agência: Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital)
Período de operação: 2000 – 2016
Website: adital.org.br
Tipo: agência alternativa
Segmento/Setor: direitos humanos
Serviços: website
Escala: nacional
Redação central: Fortaleza – CE
CNPJ: 03.704.250/0001-09
Razão social: Agência de Informação Frei Tito de Alencar para América Latina
Proprietários: Ermanno Allegri, Manfredo Araújo de Oliveira [formalmente]; cooperativa [na prática]
Fundadores: Ermanno Allegri (padre italiano, Comissão Pastoral da Terra) e outros católicos progressistas

A Adital foi a principal agência de notícias alternativa brasileira no século XXI. Surgiu por uma conjuntura favorável de fatores que reuniu contatos entre organizadores brasileiros (principalmente ligados à ala progressista da Igreja Católica) e capital europeu (em particular, de um empresário italiano do ramo de padarias, que durou apenas pelos primeiros anos). Enfrentando crises de financiamento e de mobilização, a Adital existiu até 2016, quando encerrou as atividades.

Segundo a própria agência, a ideia da criação partiu “de uma conversa com Frei Betto” (Carlos Alberto Libânio Christo), importante jornalista e frade brasileiro da ordem dos dominicanos (oficialmente, Ordem dos Pregadores) que desde a década de 1960 é liderança ativa de correntes progressistas da Igreja e da esquerda no país.

Góes (2008, p. 79-81) reconta a história dos primeiros anos da Adital, lançada oficialmente, segundo o autor, em 13 de março de 2001 em Fortaleza.

A agência foi criada a partir do interesse de três entidades italianas: a Fondazione Rispetto e Paritá (FRP), a Agenzia di Stampa (Adista), a Rete ‘Radiè Resch’ (RRR) que, em 1999, apresentaram a Frei Betto a proposta de organizar no Brasil uma agência de notícias que divulgasse ao mundo a vida e os acontecimentos da América Latina e Caribe. Em janeiro de 2000, uma equipe de trabalho começou a estruturar a Adital, escolhendo a cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, no Nordeste brasileiro, para sediar a agência. Em 22 de fevereiro de 2000, lavrou-se a Ata de Fundação da Agência de Informação Frei Tito para América Latina.

(Góes, 2008, p. 80)

Segundo Medeiros e Silva (2015, p. 83), a escolha da capital cearense se deu por já abrigar uma experiência anterior de agência de notícias alternativa que serviu de capacitação para os profissionais que formariam a Adital: a Agência de Notícias Esperança (Anote), criada em 1998 na mesma cidade. O nome da agência foi escolhido em homenagem ao frade dominicano Tito de Alencar Lima (1945-1974), preso no congresso clandestino da UNE em Ibiúna, em 1968, torturado no DOPS e na OBAN (Operação Bandeirantes) em São Paulo.

A Anote surgiu devido à ideia de criação de um documento que, junto a pastorais sociais, apresentaria a realidade do Ceará a partir de como cada uma delas enxergava o seu campo de atuação social – terra, criança, operários, etc. Apesar dos esforços somados, o documento nunca foi finalizado, uma vez que as pastorais se deram conta de que não tinham dados suficientes, visto não existir um estudo aprofundado viabilizador de tais informações para que pudessem constar no documento.

(Medeiros e Silva, 2015, p. 83)

A figura que coordenou os trabalhos de implantação da agência e serviu de referência para a empreitada até o fim foi o padre ítalo-brasileiro Ermanno Allegri, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ele intermediava o apoio financeiro para viabilizar o trabalho da agência, que montou uma redação com sete profissionais. De acordo com Góes (2008, p. 80-81), “até 2002 contou com o apoio da Missionscentral der Franciscaner (Alemanha), ADVENIAT (Alemanha), a Rede “Radiè Resch” (Alemanha) e do Governo do Departamento de Bolzano (Itália); e até 2004, da Fundação Rispetto e Paritá (Itália)”.

Desde o início, a Adital produziu textos em português e em espanhol, empenhada em receber material e fazê-lo circular nos outros países da América Latina. Segundo Allegri, em entrevista a Medeiros e Silva (2015, p. 85), a agência não tinha clientes, mas destinatários na forma de um mailing list montado pela soma de listas de contatos de diversas entidades progressistas no Brasil e nos demais países da América Latina.

Uma agência, de um lado, recebe informação e do outro, distribui informação. Só que para recebermos precisávamos de um esquema, e para enviarmos, de outro. Começamos do zero. Aqui no Brasil pegamos todas as entidades que tinham certa projeção nacional sobre a questão dos direitos humanos, por exemplo, e daí eu comecei a andar de “porta em porta”, buscando saber se cada uma delas tinha listas de grupos que trabalhavam com o mesmo tema no Brasil, e solicitando o acesso a essa lista com o argumento de que estava construindo uma agência; depois solicitei também listas no âmbito da América Latina.

(Allegri, 2014, apud Medeiros e Silva, 2015, p. 85)

Esse modelo, a exemplo de outras agências alternativas, caracterizava a Adital mais como um veículo do que como uma agência de notícias. Segundo Góes (2008, p. 81), “na verdade, assim como a Carta Maior, a Adital, mais do que seguir um modelo de agências de notícias, caracterizada pela agilidade e atualidade das informações, funciona como uma revista eletrônica, como bem afirma em seu site. Disponibiliza notícias de produção própria ou de terceiros relacionados às questões sociais da América Latina e Caribe”.

De acordo com os dois autores, a agência enfrentou problemas crônicos de financiamento, especialmente depois que seu mecenas inicial faliu. Desde então, a Adital passou a depender de verbas por projetos vindas de entidades estrangeiras (“francesas, alemãs, italianas e canadenses”, sendo “a maioria ligadas à igreja”, conforme Medeiros e Silva, 2015, p. 87) de maneira intermitente. O website da agência (no alto da página, seu aspecto em 2008), em vez de “amostra grátis” (caso da Reuters, EFE, AFP e outras agências comerciais), passou a ser ele mesmo o chamariz de audiência para gerar receita publicitária.

Por volta do ano de 2010, a situação financeira da Adital melhorou parcialmente graças ao financiamento de banners de propaganda oficial – Ministério da Saúde, Caixa Econômica, etc. –, por parte da Secretaria de Comunicação do Governo Federal. De acordo com Padre Ermanno, em alguns momentos, a agência chegou a atingir entre 100 e 150 mil reais de verba anual. […] As crises pelas quais já passou a Adital fizeram com que, muitas vezes, ideias produtivas fossem abortadas. Durante pouco mais de um ano, houve a tentativa de pagar repórteres em diferentes países – Venezuela, Argentina e Equador – para que, alinhados com a proposta da agência, produzissem e enviassem material de suas respectivas nações; todavia o custo demandado inviabilizou a continuação desse trabalho.

(Medeiros e Silva, 2015, p. 87-89)

Nas fases mais estáveis, a Adital conseguiu fazer trabalhos mais ousados, como coberturas internacionais (no Caribe, na América Central), entre as quais Medeiros e Silva (2015) destaca um livro-reportagem produzido no Haiti após o terremoto de janeiro de 2010. No entanto, segundo a autora, cada vez mais a agência passou a contar com a produção de textos de forma voluntária por profissionais “que se identificam com o trabalho da Adital”.

Em abril de 2016, o banco de dados jornalístico e a tarefa de distribuir os artigos foram transferidos para o Instituto Humanitas Unisinos (IHU), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, administrada pela ordem dos jesuítas (Companhia de Jesus) no Rio Grande do Sul. No fim daquele ano, a Adital encerrou as atividades como agência de notícias, mas continuou como website de artigos de opinião.

Trabalharam na Adital ao longo dos anos jornalistas como Conceição Rosa (coordenadora), Adriana Santiago (coordenadora), Ana Rogéria Mendes (editora), Benedito Teixeira (editor-chefe) e Marcela Belchior (repórter). As entrevistas deles aos pesquisadores citados fornecem informações preciosas sobre o funcionamento da agência.

Parte do papel exercido pela Adital é hoje cumprida pela Agência Brasil de Fato.

Como citar:

AGUIAR, Pedro. Adital. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/2025/04/20/adital/.

Referências bibliográficas:

GÓES, Laércio Torres de. Agências de Notícias Alternativas na Web. Quixinau: Novas Edições Acadêmicas, 2018.
GÓES, Laércio Torres de. Agências de Notícias Alternativas na Web: um estudo das características da Adital, Carta Maior e IPS. 337 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação). Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.
IHU Unisinos assume veiculação dos conteúdos da Adital. Jesuítas Brasil, s/l, 8 de abril de 2016. Disponível em https://jesuitasbrasil.org.br/ihu-unisinos-assume-veiculacao-dos-conteudos-da-adital/, acesso em abr./2025.
IHU. Mudanças na Adital: uma boa notícia para nossas/os leitoras/es. IHU, São Leopoldo, 31 de março de 2016. Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553013-mudancas-na-adital-uma-boa-noticia-para-nossasos-leitorases, acesso em abr./2016.
MEDEIROS E SILVA, Amanda Cínthia. Práticas e características do jornalismo alternativo e contra-hegemônico de agência de informação: uma visão a partir da rotina produtiva da Adital. 159 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Mídia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.

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