Agência: CTI – Centro Telegraphico da Imprensa
Período de operação: 1888 – 1890
Website: nunca teve
Tipo: agência cooperativa de jornais
Segmento/Setor: generalista
Serviços: texto
Escala: nacional
Redação central: Rio de Janeiro – RJ
CNPJ:
Razão social:
Proprietários: O Paiz (João José dos Reis Júnior) e mais 18 jornais associados
Fundadores: Quintino Bocaiúva

O Centro Telegraphico da Imprensa (CTI, sigla que no século XIX não tinha a conotação médica que tem hoje) foi a segunda agência de notícias brasileira em estrito senso, descontando os serviços de syndication (chamados “serviços especiais” ou “serviços telegráficos”) dos jornais do Império. Foi também, até hoje, a única agência formada por uma cooperação entre os maiores jornais do país, nos moldes da Associated Press norte-americana, da DPA alemã e da ANSA italiana.

A iniciativa de fundação do CTI coube ao jornalista Quintino Bocaiúva, que passaria à história mais como militante republicano e político dos primeiros anos do novo regime. Mas ele tinha trabalhado diretamente com Manoel Gomes de Oliveira na Agencia Telegraphica Americana entre 1874 e 1875, exercendo cargos de repórter, redator e diretor de sucursal na Bahia, e assim aprendeu o ofício do jornalismo de agências. “Enquanto fazia carreira política, Bocaiúva trabalhou na AAT e aprendeu o ofício do jornalismo de agências (Araújo, 2015, p. 132). Depois, continuou trabalhando n’O Globo até o jornal fechar, em 1883″ (Sabadini, 2023, p. 11). Na verdade, Bocaiúva comprou o jornal após a saída de Gomes de Oliveira, contando para isso com empréstimo do empresário cubano Bernardo Caymari, que tinha sido um dos investidores da AAT.

Segundo Sabadini (2023, p. 11), “a continuidade entre personagens que trabalharam no jornal e depois no CTI é um indício de que a experiência da primeira agência de notícias brasileira, ainda que efêmera, deve ter aberto portas e deixado um aprendizado entre os que tiveram contato com ela”.

O mesmo autor (2023, p. 12) afirma que Bocaiúva “era chefe de redação do jornal O Paiz quando articulou, em dezembro de 1887, a criação do consórcio empresarial” que foi batizado como CTI. A nova agência, após 13 anos de hiato desde o fim da AAT, entrou em operação em 1º de janeiro de 1888 (Aguiar, 2020a), o que é registrado por um texto elogioso publicado naquele dia em O Paiz:

Desde hoje e por accôrdo que celebrámos com varios collegas da imprensa das provincias, encetamos um serviço telegraphico especial, que supommos ser um melhoramento vantajoso, sobretudo para os referidos collegas. Tendo ampliado e desenvolvido, tanto quanto nos foi possivel, a creação de agencias locaes para a prompta expedição das noticias importantes por meio do telegrapho, julgamos que era opportuno estabelecer uma associação com os nossos collegas das provincias afim de que pudessem, com grande economia, publicar simultaneamente connosco as noticias que nos fossem transmittidas pelos nossos correspondentes. […] Precedendo aos seus collegas da imprensa fluminense nossa util tentativa, O Paiz quer somente assegurar para os associados do Centro Telegraphico da Imprensa os meios de darem curso facil, prompto e certo as noticias de interesse geral e local, e preparar-lhes assim um melhor, futuro, com o favor publico, que seguramente lograrão as folhas que possam offerecer aos seus leitores mais abundantes e completas informações telegraphicas.

(O Paiz, 1 de jan. de 1888, p. 4; mantida a ortografia da época)

Naquele fim do Império, o CTI parece ter tido o mérito de abastecer de noticiário diversos jornais espalhados pelas províncias, sendo muito deles simpáticos ao movimento republicano (então francamente minoritário na população). Entre os títulos que aderiram ao consórcio, Sabadini (20230. p. 12) lista O Paiz e mais 11 jornais: como O Liberal do Pará, A Província do Pará, o Jornal do Recife, o Diário de Pernambuco, a Gazeta da Tarde (BA), A Província do Espírito Santo, A Província de S. Paulo (atual Estadão), o Correio Paulistano, o Diário Popular, Diário Mercantil e o Diário de Notícias (SP). Segundo o jornal A Província (1888), o número total de associados ao CTI nos primeiros meses chegou a 18 jornais.

Na virada do império para a república, O Paiz se intitulava “a folha de maior tiragem e de maior circulação na América do Sul”. Na ausência de auditorias de circulação como as que existem hoje, tal reivindicação no século XIX era difícil de provar.

A iniciativa durou até logo depois da proclamação da república. Menos de um ano depois da mudança de regime, em 1° de novembro de 1890, o jornal O Brazil noticiou o fim do CTI. “Em seu lugar”, reproduzi Sabadini (2023, p. 12), o jornal noticia que “O Paiz acabou com o Centro Telegraphico da Imprensa e tem agora um serviço especial seu, todo seu, exclusivamente seu” (O Brazil, 1 de nov. de 1890, p. 2), o que indicava “não uma interrupção do serviço prestado, mas sim uma transformação do consórcio no Serviço Especial d’O Paiz – ou seja, uma continuidade institucional – informação até agora inédita no campo de estudo das agências de notícias em território nacional”.

O período de existência do CTI, de 1888 a 1890, coincide com as campanhas pela abolição e pela proclamação da República. Tais eventos se conectam por um nome: Quintino Bocaiúva. Ambos os acontecimentos tiveram a participação ativa do jornalista. Aguiar (2020a, p. 7) relata que a “agência cooperativa colaborou para a disseminação de perspectivas antimonarquistas para a imprensa de outras províncias. O CTI esteve ativo na época da proclamação de 15 de novembro 1889, ajudando a divulgar o golpe militar” do marechal Deodoro e de Benjamin Constant pelos jornais do país.

(Sabadini, 2023, p. 12-13)

Após o fim do CTI, vários dos antigos jornais participantes abriram seus próprios serviços de redistribuição: foi esse o caso d’A Província de S. Paulo, do Diário de Pernambuco, do Correio Paulistano, da Província do Pará e do Diário de Notícias, além do próprio Serviço Especial d’O Paiz.

Como citar:

AGUIAR, Pedro. Centro Telegraphico da Imprensa (CTI). História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/2025/03/25/cti/.

Referências bibliográficas:

AGUIAR, Pedro. A Longa e Esquecida Tradição do Jornalismo de Agências no Brasil. 18º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, Fortaleza. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, Anais…, 2020a. Disponível em: http://sbpjor.org.br/congresso/index.php/sbpjor/sbpjor2020/paper/view/2817/1578, acesso em abr./2025.
ARAÚJO, Rodrigo. Caminhos na Produção da Notícia: a imprensa diária no Rio de Janeiro (1875-1891). Tese (doutorado em História). Rio de Janeiro: UERJ, 2015.
ESPECIALISSIMO!. O Brazil. Rio de Janeiro, 1 de nov. de 1890. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/800023/420. Acesso em: 20 de jan. de 2023.
SABADINI, João Pedro. As Primeiras Agências de Notícias e Serviços Telegráficos de Jornais no Brasil do Século XIX: resultados de pesquisa hemerográfica. Planície Acadêmica, v. 5 n. 2, jul./dez. 2023, p. 140-158. https://periodicos.uff.br/planiciecientifica/article/view/61265

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