Texto reproduzido do blog Agências de Notícias com autorização do autor.
Meridional: a agência de notícias que integrou o Brasil
(Pedro Aguiar)
O empresário de mídia paraibano Assis Chateaubriand (1892-1968) foi uma figura complicada. Era ao mesmo tempo conservador na política e modernizador na economia, liberal na ideologia mas afeito a autoritarismos, amigo do capital internacional mas promotor da cultura nacional e apegado às raízes da identidade brasileira. Os nomes que escolheu para suas empresas refletem justamente esse sentimento de brasilidade: Tupi, para as redes de rádio e TV; a revista O Cruzeiro, por causa da constelação que só pode ser vista do hemisfério sul; e o adjetivo próprio desse mesmo sul para sua agência de notícias: a Meridional.
Chateaubriand fundou a Agência Meridional em 20 de agosto de 1931, pensando em racionalizar o intercâmbio de textos e fotos entre os jornais de seu próprio grupo. Na ocasião, ele já detinha o controle de O Jornal (desde 1924), no Rio, do Diário da Noite (edições Rio e SP), do Diário de S. Paulo, do Estado de Minas (Belo Horizonte), do Diário de Notícias (Porto Alegre), do Alto Madeira (Porto Velho, então parte do Mato Grosso), além das revistas O Cruzeiro e A Cigarra, e as juvenis O Guri e Detetive. Naquele mesmo ano, o empresário comprara o histórico Diário de Pernambuco, de Recife (o jornal mais antigo do Brasil ainda em circulação), e fundara o vespertino Diário da Tarde em Belo Horizonte. Com tantos veículos espalhados pelo país, era mais barato que as notícias nacionais, internacionais e de economia tivessem sua produção centralizada e compartilhada, e que os jornais se ocupassem exclusivamente da cobertura local.
Chatô, como era chamado, pode ter sido inspirado pela experiência que testemunhou anos antes, quando esteve na Alemanha como correspondente do Correio da Manhã, em 1920. O maior conglomerado de imprensa alemão da época, o Hugenberg-Konzern de Alfred von Hugenberg, tinha uma agência própria – a Telegraphen-Union – que só redistribuía material internamente para os próprios jornais do grupo (cerca de 1.600 no final daquela década). Por meio de acordos com agências estrangeiras (a United Press e a Associated Press, dos EUA, e a Extel britânica), a TU garantia o fornecimento de notícias internacionais e abdicava de ter correspondentes próprios. O “modelo Hugenberg” parece ter seduzido Chateaubriand, que formatou a Meridional nos mesmos moldes (desde 1926, segundo Gaspar Costa Dutra, o empresário já fazia redistribuições internas informais a partir da rede de sucursais de seus jornais).
Carneiro (1999, p.118) conta que o primeiro uso do termo “diários associados“, em minúsculas, para se referir ao conglomerado apareceu num despretensioso editorial de Chateaubriand logo depois da Revolução de 1930. O nome logo se consolidou como marca do grupo empresarial de mídia e, meses depois, com os ventos políticos soprando a seu favor, Chatô decidiu por investir na criação da Meridional. Em um texto bem laudatório, em edição comemorativa em julho de 1973, a revista O Cruzeiro relembrava a missão com a qual a agência foi fundada, com sede no Rio de Janeiro:
Após adquirir, em São Paulo, o segundo elo da grande cadeia de jornais que viria criar, Assis Chateaubriand, sempre voltado para o futuro, sentiu, com sua visão empresarial, a necessidade de criar um veículo de ligação entre os órgãos Associados. Um coração para um corpo recém-nascido, capaz de alimentá-lo e levá-lo ao crescimento total. E nasceu a Agência Meridional, ligando, por suas artérias, os extremos do país. Estava integrada a cadeia Associada, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. As dificuldades iniciais foram enfrentadas por todos os que viviam as lides de uma imprensa ainda carente de recursos tecnológicos. O telefone ligava poucas cidades à Capital do país [o Rio de Janeiro] e o rádio ainda ensaiava seus primeiros passos. Aviões eram máquinas do futuro. Mas Assis Chateaubriand a tudo superava.
Há, porém, uma controvérsia na bibliografia disponível sobre o fato de se, no início, a Meridional circulava material apenas entre os próprios veículos dos Diários Associados ou se vendia também para fora, para outros jornais, revistas e emissoras de fora do grupo. Esta última versão é sustentada por Morais (1994, pp.269-270) e Molina (2015, pp.427-428), enquanto Bahia (2009, p.279) e Medina (1988, p.48) afirmam categoricamente que os serviços da agência se limitavam “aos órgãos da cadeia”. O mesmo consta num documento da UNESCO de 1953 (News Agencies: their structure and operation), que por décadas foi o mais detalhado levantamento sobre agências de notícias no mundo. Na página 72, o texto em inglês afirma claramente: “A Agência Meridional serve exclusivamente aos jornais e emissoras pertencentes aos Diários Associados. (…) A Agência Meridional não negocia notícias com nenhuma instituição além dos órgãos dos Diários Associados”.
Costa Dutra (1962, p.203) esclarece esse ponto:
Seu propósito original era fornecer notícias nacionais, trocadas entre os jornais do Rio e de São Paulo, geralmente por telefone. Quando a cadeia de jornais começou a aumentar, no entanto, foi necessário melhorar e ampliar a “sucursal”. A nova Agência Meridional foi instalada em sua sede própria, com equipe própria. Os serviços se preocupavam principalmente com eventos nacionais, indo principalmente para os jornais que formavam os Diários Associados. A única exceção foi feita no estado de Minas Gerais, onde outros jornais parceiros foram ajudados pela Agência. Os meios de comunicação eram por telefone, telégrafo e avião. Mais tarde, porém, em 1940, um sistema de teletipos foi introduzido entre São Paulo, Minas Gerais e Rio.
A Agência Meridional não foi a primeira agência de notícias do Brasil (nem a segunda, nem a terceira), ao contrário do que se afirma erroneamente às vezes, mas certamente foi a que primeiro teve a função de integrar a imprensa brasileira. Por meio de sua rede telegráfica de distribuição e compartilhamento de textos e fotos entre os jornais do grupo de Chateaubriand, os brasileiros acompanhavam os desdobramentos políticos da Era Vargas (revolta de 32, constituição de 34, intentona comunista de 35, golpe do Estado Novo de 37, intentona integralista de 38, entrada na Segunda Guerra), viam as imagens de repórteres fotográficos renomados, como Jean Manzon, e liam os editoriais inflamados de seu proprietário. É da Meridional uma das poucas fotografias publicadas de Lampião e Maria Bonita, mortos em 1938.
A Meridional nasceu com um caráter multimídia: produzia textos para jornais e revistas, fotografias e também fornecia para emissoras de rádio. Já em 1932, a agência foi encarregada de abastecer o “Jornal Falado”, boletim informativo diário dos Associados na Rádio Educadora, do Rio de Janeiro. Já na ocasião, a Meridional era descrita como “a agência divulgadora de informes dos Diários Associados“. No mesmo ano, com a fracassada rebelião paulista, a Meridional cobriu a repressão aos protestos oposicionistas no Rio e seu primeiro diretor, Jaime de Barros, foi chamado para depor na Chefia de Polícia (Morais, 1994, p.310). O fato de a agência ter distribuído fotos e matérias comprovando a truculência policial pelo país afora tinha incomodado Getúlio mais cedo do que se pensava.
Muitos jornalistas importantes da imprensa brasileira trabalharam na Meridional: entre eles, Carlos Lacerda, um dos primeiros diretores da empresa (ingressado em 1942 como correspondente em São Paulo, e chefiando-a até 1944), Vítor Nunes Leal (autor de Coronelismo, Enxada e Voto; também foi diretor), Danton Jobim, Joel Silveira, Edmar Morel, Autran Dourado, Carlos Castello Branco e Wilson Figueiredo, que começou a carreira na sucursal da agência em Belo Horizonte, em 1944.
Foi pela Meridional que Joel Silveira foi enviado para cobrir a campanha dos pracinhas da FEB na Segunda Guerra Mundial (foto acima), com a devida recomendação de Chateaubriand, hoje famosa: “Mas não me morra, seu Joel! Repórter é pra mandar matéria, não pra morrer!”. Mesmo assim, anos depois, o jornalista sergipano relatou que grande parte do que enviou do front na Itália não saiu publicado, por causa da censura getulista. “Quando voltei, Carlos Lacerda, diretor da agência Meridional, me deu uma pilha de laudas: ‘Isso foi o que você mandou e não pudemos soltar'”.
A Meridional foi responsável por distribuir várias das matérias e fotografias memoráveis da história dos Diários Associados. Foi a agência, por exemplo, que espalhou a entrevista com Getúlio Vargas realizada por Samuel Wainer, em março de 1949, e replicada por todos os jornais do grupo (Laurenza, 2013, pp.183-184). A Meridional também explorou, com Edmar Morel junto a David Nasser d’O Cruzeiro, a história do desaparecimento do Coronel Percy Fawcett, explorador britânico que sumiu no Mato Grosso enquanto procurava “a cidade perdida de Z” (muito provavelmente, as ruínas de Cuicuro, Kuhikugu ou sítio arqueológico X11).
A evolução tecnológica do grupo foi particularmente aplicada na Meridional, como relata a mesma matéria d’O Cruzeiro de 1973:
Os elos da cadeia de notícias foram se juntando e os encargos da Agência cresciam com a ampliação da área de cobertura. As dificuldades de comunicação aumentavam. O telefone já não atendia às necessidades dos veículos, não só pela falta de ligação entre o Rio e as demais cidades, como pela grande dificuldade nas chamadas interurbanas. O noticiário teve que ser reduzido à linguagem telegráfica e longos despachos eram feitos através dos Correios. Mas a dinâmica da imprensa, passado algum tempo, não mais se satisfazia com esse sistema. Foram, então, criados os “boletins de press“. As principais notícias, simplificadas à linguagem telegráfica, eram transmitidas diretamente e recebidas nos Estados pelos jornais, eliminando-se a etapa de recepção nos Correios e ganhando-se maior velocidade no serviço. O sistema era eficiente, mas apresentava grandes dificuldades, exigindo que os jornais, nos Estados, mantivessem um radiotelegrafista a postos com o fone nos ouvidos, tentando captar os pontos e traços que, traduzidos, continham as últimas informações sobre os mais recentes acontecimentos. E os jornais da cadeia, no interior, eram os mais bem informados em todo o Brasil. Paralelamente ao sistema de press, teve a Meridional que lançar mão dos malotes expedidos através das empresas aéreas, uma vez que os boletins telegráficos não podiam ser usados nos casos de reportagens, artigos e outras matérias de maior vulto. Toda uma infra-estrutura foi montada. (…) Surgiu, com isso, quase que uma especialização entre os contínuos, pois o elemento destacado para esse serviço precisava ser inteligente e, acima de tudo, bom de bico, para convencer comissários, comandantes e até passageiros a levar o material.
Em 1953, segundo o relatório da UNESCO, 55 jornalistas trabalhavam na agência na sede no Rio e em cinco escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador, além de correspondentes em outras cidades. O serviço noticioso enviava cerca de 5 mil palavras por dia. Três anos depois, o grupo lançou uma edição em espanhol de O Cruzeiro, que seria publicada até 1975, com textos da Meridional. Em 1959, comprou o Jornal do Commercio, o mais antigo do Rio de Janeiro (fundado em 1827). Nesse mesmo ano, Chateaubriand doou 49% de seu conglomerado a executivos do grupo, criando o Condomínio Associados. Mais três anos depois, doaria os 51% restantes a esses colaboradores, entre os quais estavam João Calmon, David Nasser, Austregésilo de Athayde, Leão Gondim de Oliveira, Martinho de Luna Alencar e Paulo Cabral. Foi nessa época, também, construída a sede do grupo na Rua do Livramento, zona portuária do Rio de Janeiro, projetada por Oscar Niemeyer (foto abaixo).
Em 1960, para dar à recém-construída capital um jornal diário, Chateaubriand resgatou o nome do primeiro jornal brasileiro e fundou, em Brasília, o Correio Braziliense. Em 1963, a Meridional inaugurou um “novo serviço de telex entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, completando a integração centro-sul” (Wainberg, 2003, p.189). Mais uma vez, o processo é recontado na matéria d’O Cruzeiro:
O pioneirismo que destacou Assis Chateaubriand em diversos setores de atividade, como homem público, marcava, também, sua atuação nos Diários Associados. A Meridional foi a primeira agência do país a possuir aparelhagem de telefoto. Verdadeira revolução. Uma foto tirada há algumas horas, no Rio. já estava sendo publicada por um órgão de outro Estado, minutos depois. E transmitida pelo telefone. Algo de complicado na sua transmissão, digno mesmo de uma cena de filme da moderna ficção científica. (…) A adoção dos mais modernos métodos de trabalho, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, que sempre caracterizou a atuação de Assis Chateaubriand, fez com que a instalação do telex na Meridional fosse, também, a primeira no país, numa agência do seu porte. Tão logo o antigo Departamento dos Correios e Telégrafos, que detinha o monopólio do sistema, o liberou para a empresa privada, foram instalados aparelhos de telex na redação da Agência, no Rio. São Paulo, Belo Horizonte. Juiz de Fora. Curitiba, Campo Grande e Goiânia foram algumas das primeiras cidades ligadas ao Rio pela rede de telex. A medida que o DCT expandia o sistema, a Meridional era a primeira a chegar com a sua linha. (…) A transmissão de telefotos foi grandemente simplificada pelo progresso tecnológico. O que era uma aparelhagem complicada, que necessitava de uma sala especial e que só poderia ser operado por um engenheiro, foi reduzido a uma mala de pequenas dimensões.
Em 1970, num pronunciamento no Senado em comemoração aos 39 anos da Meridional, o senador Adalberto Sena (MDB-AC), que trabalhara para a agência como jornalista, descreveu em termos elogiosos o funcionamento da agência e seu papel em integrar o país:
a Agência Meridional, ininterruptamente, alimenta toda a cadeia de Diários e Emissoras Associados, com informações, notícias, artigos e comentários, reportagens e fotografias, versando sobre os mais diferentes assuntos de interesse geral. Não há episódio importante, em qualquer parte do território nacional, que não seja transmitido pelo referido veículo noticioso, que presta ao Brasil relevantes serviços. Acontecimentos políticos, policiais, literários, econômicos, sociais, esportivos, tôda a imensa variedade de temas que surgem das relações humanas, são apanhados a cada instante por essa empresa, que funciona como um olho mágico a ver tudo, a anotar tudo, a informar tudo o que for do interesse geral. É o jornalismo, na sua expressão mais soberba, que leva de norte a sul, de leste a oeste, a matéria-prima que movimenta as estações de rádio, os canais de televisão, os jornais diários. Quando Assis Chateaubriand criou a Meridional, tinha em mente tornar auto-suficientes os serviços de abastecimento de notícias entre todos os noticiários escritos, falados e televisionados dos Diários Associados. Essa finalidade ainda perdura, e a referida agência continua servindo ao Condomínio Associado, fornecendo-lhe noticiário para jornais, rádios e televisões. (…) Por sua vez, ela se abastece nos próprios órgãos e na própria equipe “associada”, que se espalha por todo o País.
Foi lembrado pelo colega senador Milton Trindade (ARENA-PA), também ligado aos Associados, que a Meridional era, então, “uma das duas que, na área nacional, usa o moderno sistema de radiofoto, suprindo, diariamente, todos os jornais do Brasil, da rede dos Diários Associados, com duas fotos dos acontecimentos mais importantes ocorridos na antiga Capital da República”, o Rio de Janeiro.
A década de 1960, porém, viu o início de um longo declínio da agência. Os jornalistas do Rio de Janeiro entraram em greve em novembro de 1962, inclusive os da Meridional. A empresa não tolerou a paralisação e demitiu praticamente todos os jornalistas da casa – incluindo Cláudio Abramo. Segundo Werneck Sodré (1966, p.484), “permaneceram apenas 3 ou 4 elementos”. A partir do final da década, de acordo com Gonçalves (2010, p.59), a Meridional teve dificuldades financeiras crônicas quando os veículos-membros do próprio Condomínio Associados deixaram de custear suas despesas.
Como era típico dos negócios de Chateaubriand, a agência era mantida sem nenhuma transparência financeira, e provavelmente deu prejuízo durante a maior parte de sua existência. Em 1971, depois da morte do fundador, a Meridional fez um último investimento de expansão de serviços (Wainberg, 2003, p.183). Três anos depois, em 1974, a Meridional chegou a fechar, para ser reaberta meses depois, no ano seguinte, reformulada com o nome de Agência de Notícias dos Diários Associados (ANDA).
No livro Minhas Bandeiras de Luta (1999), Calmon relata a reunião que selou a crise da Meridional.
Uma vez começado, o saneamento das empresas prosseguiria de qualquer forma. No dia 15 de julho realizei uma reunião para tratar do fechamento da Agência Meridional, que coordenava a distribuição de notícias dos diversos órgãos Associados. Estavam presentes os executivos que se ocupavam das relações da agência com nossos veículos: Martinho, Camelo, Ary Cunha, Camilo Teixeira da Costa, Busto, Edson, Gargiulo e Afonso Viana. Decidimos então que o fornecimento dos serviços da Meridional cessaria a partir de 30 de julho. As empresas Associadas, porém, continuariam a pagar suas contribuições até o final da liquidação da empresa. Aliás, a má situação da agência se devia em grande parte à falta de pagamentos de seus serviços. As empresas, por sua vez, seriam liberadas para contratar a Agência Estado ou a Agência Jornal do Brasil.(…) Informei à Comunicação Executiva minha decisão de fechar a Agência Meridional. Após a eleição, submeti à plenária minha decisão sobre a Agência Meridional, referendada por maioria absoluta. Apenas Athayde, David, Maranhão e Dimas não aprovaram a suspensão da agência.
A partir desse momento, a estratégia comercial da agência mudou, passando a distribuir conteúdo também para jornais de fora dos Diários Associados, como já vinham fazendo a AJB (1966), a AE (1970) e a Agência O Globo (que nascera no mesmo ano de 1974, aproveitando a retração da Meridional no Rio). A diferença, porém, era a ampla cobertura territorial que a rede de jornais e correspondentes dos Associados mantinha sobre o Brasil, enquanto as demais agências concentravam-se sobretudo no eixo Rio-São Paulo e em suas sucursais no Distrito Federal.
Em 1985, a ANDA ex-Meridional deu o furo nacional da internação de Tancredo Neves, presidente eleito, na véspera da posse, no Hospital de Base de Brasília, por meio do repórter Renato Riella, do Correio Braziliense. Só não obteve a foto porque o fotógrafo Joaquim Firmino teve uma crise de tremedeira ao ver o presidente, que morreria semanas depois. Em 1988, a sede da ANDA foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília, passando a ter sua gestão agrupada com a do Correio Braziliense.
Em 1997, na onda da digitalização, a agência abandonou a sigla ANDA e restaurou a marca Meridional. Dez anos depois, em 2007, fez um novo rebranding e assumiu a marca DA Press (da sigla dos Diários Associados), pela qual opera atualmente. A nova empresa, ainda sediada em Brasília, passou a se concentrar na comercialização do imenso acervo fotográfico dos Associados, incluindo os da revista O Cruzeiro, d’O Jornal, do Diário de Notícias gaúcho e dos outros veículos ainda existentes. Segundo seu website, “atualmente, 14 jornais do grupo Diários Associados produzem, diariamente, mais de 2.000 fotografias sobre os mais diversos temas no cotidiano brasileiro”, e o imenso acervo histórico “conta com 50 milhões de imagens” e é “considerado fonte inesgotável de pesquisa sobre a história do Brasil”.
Em outubro de 2016, depois que o Jornal do Commercio e o Diário Mercantil foram fechados (deixando os Associados sem jornais cariocas), parte desse acervo foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Entre outros jornalistas que passaram pela Agência Meridional e suas sucessoras ANDA e DA Press, estiveram Adirson Vasconcelos, Adriano Souto, Alfredo Obliziner, Alinor Azevedo, Antônio Pires Cavalcanti, Bertha Maakaroun, Borba Tourinho, Caubi de Oliveira, Clodomir de Morais, Corifeu de Azevedo Marques, Francisco Busto, Isaac Zukenman, João José Póvoa, José Álvaro de Moura, José Jobim, Laerte Braga, Lourival Siqueira, Luiz Carlos Sarmento, Magno Martins, Marcelo Pimentel, Murilo Marroquim, Nelson da Costa Teixeira, Paulo Moncorvo, Rubens Wattimo, Segadas Viana, Severino Barbosa Correa, Themístocles César Campelo, Vítor do Espírito Santo e Yeddo Mendonça.
Nas biografias de Assis Chateaubriand e nas obras sobre a história dos Diários Associados, alguns erros grosseiros às vezes são cometidos: o primeiro é afirmar que a Meridional foi a primeira agência de notícias do Brasil, quando não foi: antes dela, já haviam existido a Agencia Americana Telegraphica (1874-1875), de Manoel Gomes de Oliveira; a Agência Americana (1909-1930), de Olavo Bilac e Carvalho Azevedo; e a Agência Brasileira de Notícias (1924 e ativa até hoje), de Raul Bopp, Américo Facó e Jaime Adour da Câmara, sem contar a misteriosa DTM e iniciativas efêmeras tentadas por escritores como Monteiro Lobato. O segundo erro, derivado provavelmente de uma má interpretação de texto, é o que Fernando Morais inclui em sua biografia de Chatô, afirmando que, quando a Meridional foi criada, “só existiam cinco agências no mundo, sendo três europeias (Havas, Reuters e Wolf) e duas norte-americanas (Associated Press e United Press)” (Morais, 1994, p.266). Isso é de um absurdo sem tamanho, já que havia mais de 100 agências em dezenas de outros países do mundo em 1931, inclusive no Brasil e na América Latina.
De fato, como escreve Carneiro (1999, p.157), a Meridional precedeu a concorrência em pelo menos 35 anos, já que outra agência de grupo jornalístico no Brasil só surgiria em 1966, com a Agência JB – nesse caso, já nascida com o propósito de vender conteúdo para veículos de fora do grupo. Porém, mais importantes que o pioneirismo, foram o legado e a inspiração que a Agência Meridional deixou para suas sucessoras e para a história do jornalismo de agências no Brasil. Muito antes das redes de televisão, uma agência de notícias já se punha a serviço de integrar, por meio da comunicação, o extenso território da nação brasileira.