Glossário de jornalismo de agências

 

Acervo de notícias | Agência alternativa | Agência de checagem | Agência de comunicação | Agência de fotojornalismo | Agência de jornalismo | Agência de notícias | Agência de reportagem | Agência especializada | Agência governamental | Agências internacionais | Agência telegráfica | Agência televisiva | Agências transnacionais | Agencioide institucional | Ampliação | Análise | Antecipação | Anulação | Arquivo de notícias | Assinante | Assinatura | Atualização | Banco de imagens | Big Four | Boletim | Bureau | Cabeça tabulada | Chefe de bureau | Cliente | Consolidado | Contrapauta | Contrato de distribuição | Correção | Correspondente | Crônica | Cronologia | Declaração de Talloires | Delegação | Despacho | Direcionamento | Documentação | Editor | Embargo | Entrevista | Escritório | Fio | Fita perfurada | Flash | Fotoagência | Funções de despachos | Gêneros de despachos | Gilette press | Informações financeiras | Íntegra | IPTC | Jornalismo de agências | Jornalismo de mídia | Licenciamento de conteúdo | Linha do tempo | Matéria de agência | MINDS International | NANAP | Newswire | Nível de urgência | NOMIC | Nota aos clientes | Noticiário legível por máquina | Pacote multimídia | Passo a passo | Pentear telegrama | Perfil | Pontos essenciais | Pool | Praça | Prévia | Radioagência | Reações | Redação central | Rede de correspondentes | Resenha de imprensa | Retranca | Sede regional | Serviço especial | Serviço fotográfico | Serviço telegráfico | Serviço noticioso | Serviços | Sistema editorial | Substituição | Suíte | Syndicate | Tabela | Telégrafo | Teletipo | Telex | Testemunhal | Urgente

 

Como citar:
AGUIAR, Pedro. Glossário de jornalismo de agências. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/glossario/.

 

Acervo de notícias, Arquivo de notícias

Repositório de despachos já enviados por uma agência de notícias, normalmente de acesso restrito a certos funcionários autorizados, nunca abertos à consulta pública. Para fins de busca e recuperação (inclusive para revenda), os despachos são indexados segundo padrões internacionais desenvolvidos pelo IPTC. Desde a digitalização dos processos na década de 1990, os acervos têm sido mantidos e atualizados em formatos digitais, com arquivos de computador que ocupam muito pouco espaço em comparação com papéis impressos e outros formatos analógicos. Entretanto, a memória anterior a essa década é, pelo mesmo motivo, mais difícil de armazenar, mais sujeita a lacunas e, assim, tende a ser fragmentária. Como, ao contrário de publicações impressas, não há legislação de depósito compulsório para serviços de agências em nenhum país, os acervos de agências são privados e guardados sob sigilo para que possam ser monetizados.

 

Agência alternativa

Classificação geralmente usada por autodeclaração, isto é, por organizações que se denominam agências de notícias, mesmo que não operem em fluxo contínuo com fornecimento de conteúdo a terceiros. Em geral, são apenas websites, sem logística de entrega de informação. Frequentemente, publicam artigos de opinião e análise, sem muita produção de reportagem. Algumas organizações alternativas que de fato operam como agências, inclusive com estrutura de apuração própria, são a IPS (Inter Press Service), ALAI (Agencia Latinoamericana de Información), Adital (Agência de Informação Frei Tito para América Latina), ANF (Agência de Notícias das Favelas), Street News Service (população de rua) e Rabble (Canadá). No passado, houve também a ALASEI (Agencia Latinoamericana de Servicios Especiales de Información). É um tipo de fenômeno bastante particular da América Latina e da esfera cultural iberoamericana, e muitas vezes elas são ligadas a movimentos sociais e ativistas.

 

Agência de checagem

Tipo de empresa dedicado à verificação de informações ditas por figuras públicas ou apuradas por repórteres. Até os anos 2010, a checagem (em inglês, fact-checking) era considerada parte integrante do trabalho de reportagem dentro das redações, o que, no entanto, vinha sendo dificultado pelas demissões (passaralhos), pelo encolhimento das equipes. Daquela década em diante, começaram a aparecer empresas especializadas que terceirizavam esse tipo de trabalho. Fora do Brasil, esse tipo de empresa não é conhecido pelo termo “agência”, mas equivalentes das palavras “serviços de checagem” ou “websites de checagem”. No Brasil, a primeira empresa a adotar a terminologia “agência de checagem” foi a Agência Lupa, fundada em 2015 no Rio pela jornalista Cristina Tardáguila, pós-graduada em Jornalismo de Agências pela Universidade Rei Juan Carlos e ex-editora da EFE no Rio de Janeiro. No mesmo ano, a jornalista Tai Nalon, também no Rio, fundou a Aos Fatos, que também usava a nomenclatura “agência” no início. O termo era justificado pelo fato de esses serviços inicialmente se basearem no fornecimento do trabalho de checagem a terceiros. Com o tempo, porém, passaram a se sustentar mais por plataformas próprias de publicação e outras fontes de receita (cursos, consultoria, desenvolvimento de ferramentas de software de checagem). Portanto, agências de checagem não são uma subcategoria de agências de notícias, mas todo um outro ramo de atividade. A despeito disso, algumas agências de notícias stricto sensu têm ou tiveram serviços próprios de checagem, como a AFP Factuel (no Brasil, AFP Checamos), desde 2017, EFE Verifica, desde 2019, e a AAP FactCheck (2003-2021).

 

Agência de comunicação

Tipo de empresa que presta serviços de divulgação para organizações e pessoas (especialmente figuras públicas, famosas e celebridades), abrangendo tanto assessoria de imprensa quanto publicidade. É um setor de negócios completamente distinto das agências de notícias, mas frequentemente confundido por parte de leigos. Ver também newswire.

 

Agência de fotojornalismo

Subcategoria de agências de notícias que vende ou fornece fotografias dos eventos noticiáveis do momento. Embora várias agências tenham serviço fotojornalístico, há inúmeras agências especializadas nesse tipo de material, que tem alto valor informativo e mercado pujante. Atenção: nem toda agência fotográfica é de notícias. Algumas, como a famosa Agência Magnum, de Paris, oferecem vários gêneros de imagem, desde artísticas até publicitárias. Bancos de imagens como Getty, Keystone e Shutterstock, por exemplo, podem ter ou não ter serviço fotográfico com a pauta do dia. A Keystone, em particular, comprou a agência suíça SDA em 2017, acrescentando o serviço noticioso ao seu cardápio. O advento da IA gerativa, nos anos 2020, fez várias agências acrescentarem opção de imagens geradas por comando (prompt) ao seu rol de serviços.

 

Agência de jornalismo

Também chamada de “agência de reportagem”, é outro tipo de empresa concentrado na produção de reportagens, particularmente do estilo investigativo, produzidas para fornecimento a veículos ou para publicação em plataformas próprias (como o website da agência). As agências de jornalismo se diferem das agências de notícias por não acompanharem o noticiário do dia e a lógica da produção em tempo real, mas por produzirem material original (apuração própria), geralmente em uma temporalidade autônoma. Embora “notícia” e “reportagem” sejam ambos gêneros jornalísticos, o que mais distingue as duas categorias de empresas é o fato de as agências de jornalismo não terem rotinas de produção em fluxo contínuo como têm as agências de notícias. No Brasil, as pioneiras dessa categoria foram a Agência Jornalística Pernambucana, de 1907, fundada por Julio Agostinho Bezerra, e a Brazilian Associated Press, que funcionou de 1914 a 1919 em Londres. Talvez a que alcançou maior renome tenha sido a Agência Pública, fundada em 2011 em São Paulo pelas jornalistas Natália Viana e Marina Amaral, fundada na ideia do jornalismo de interesse público. Outros exemplos nacionais são Agência Mural, Amazônia Real, Sportlight, Marco Zero e Agência Nossa. Aliás, o conceito de “agência de jornalismo” é um fenômeno bastante brasileiro, sem tanta equivalência em outros países nem outras línguas – embora haja exemplos pontuais no exterior. Dois deles são a Agencia Periodística Hispano-Americana, criada por Luís Ferrera Acosta em 1946 no México, e a Agencia Latina, fundada em 1950 por peronistas argentinos no Rio de Janeiro; desde mais recentemente, há a API (Colômbia) e a CIMAC (México). Agências de jornalismo também são nomenclaturas muito adotadas como produtos laboratoriais de cursos de graduação em Jornalismo, embora frequentemente sejam apenas websites, sem agenciar conteúdo para terceiros. Portanto, agências de jornalismo não são uma subcategoria de agências de notícias, mas todo um outro ramo de atividade.

 

Agência de notícias

Uma agência de notícias é uma organização distribuidora e fornecedora de conteúdo jornalístico em fluxo contínuo. Elas existem justamente para prover os meios de comunicação com notícias e informações que eles não conseguem obter por conta própria. As agências não são “mídia” nem veículos de comunicação porque não publicam diretamente para os leitores e espectadores, mas enviam seu material para os veículos clientes (ou assinantes), que, estes sim, falam diretamente com o público. Elas funcionam, portanto, como “jornais para jornalistas”, já que seus leitores são os profissionais que dão a forma final à notícia, e não os consumidores diretos. Esses veículos (jornais, revistas, emissoras de TV e de rádio, portais de internet, aplicativos de notícias) normalmente pagam uma quantia fixa regular (mensal, semestral, anual…) para ter o direito de reproduzir o conteúdo que as agências fornecem. Se fôssemos comparar com o comércio, diríamos que os veículos vendem informação ao público no “varejo”, enquanto as agências vendem no “atacado”. Por isso mesmo, as agências de notícias são chamadas de “atacadistas da informação”. Elas vendem em grandes quantidades como fornecedoras, enquanto os veículos vendem em quantidades menores diretamente para o consumidor (de informação).

No século XIX, o termo mais usado era “agências telegráficas“. No século XX, usou-se a expressão “agências noticiosas”. Ambas caíram em desuso.

Uma agência de notícias nunca pára: ela está sempre operando, 24 horas por dia e sete dias por semana, para prover seus clientes com informações que eles possam usar como base para montar seu noticiário. Agências têm um potencial multiplicador de seu conteúdo. Uma matéria feita por uma grande agência provavelmente terá alcance muito maior que a matéria de um único jornal, por mais lido que este seja, porque ela será reproduzida em centenas de jornais, websites, emissoras, aplicativos e outras mídias. Por isso mesmo, o cuidado com a precisão da informação deve ser redobrado, já que um erro também será reproduzido e repetido numa escala muito maior que a do cometido por um único veículo.

Uma agência de notícias não é apenas um site na internet, muito menos um blog. Tampouco é um boletim de informações ou de press-release (comunicados de imprensa) servindo a uma instituição (um governo, uma universidade, uma empresa) específica. Verdadeiras agências de notícias precisam fazer seu conteúdo chegar até o cliente. Investem quantias milionárias em tecnologias de transmissão, em telecomunicações, satélites, fibra óptica, linhas dedicadas (de uso exclusivo), intranet e outros canais que possam fazer a informação chegar de forma rápida, segura e sem erros aos clientes que pagam (caro) por ela. Não basta ter um site e encorajar os veículos a copiarem-e-colarem o conteúdo pronto de lá. É preciso cuidar da logística (transporte e armazenamento) da informação.

Outros tipos de empresas (bancos, investidoras, consultorias), instituições públicas (governos, ministérios, autarquias) e até pessoas físicas (como empresários e executivos) também podem assinar serviços de agências para ter acesso rápido à informação, mas custa muito caro.

A Reuters, a Associated Press (AP, dos EUA), a Agence France-Presse (AFP, da França), a DPA (Alemanha), a EFE (Espanha), a ANSA (Itália), a Bloomberg (EUA), a Xinhua (China) e a TASS (Rússia) são algumas das maiores agências do mundo. Como já dito, agências de notícias não são veículos de mídia, mas fornecedoras dos veículos. É comum algumas pessoas confundirem, equivocadamente, grandes empresas de mídia como a CNN, a BBC e a Al-Jazeera com agências de notícias. Essas empresas são emissoras de televisão, mas não agências. Do ponto de vista da natureza jurídica, nem toda agência de notícias é uma empresa: algumas são serviços prestados por veículos jornalísticos (caso dos syndicates e da Agência Brasil, da EBC) ou por órgãos públicos (caso dos agencioides institucionais) enquanto outras são organizações não governamentais. Em português, diz-se “agência de notícias”, com o último termo no plural. A forma “agência de notícia”, no singular, é errada.

 

Agência de reportagem

Outro nome usado para agências de jornalismo.

 

Agência especializada

Tipo de agência de notícias dedicada a um tema específico de cobertura. As especializações temáticas mais comuns entre agências são as de esportes, economia e informação financeira, entretenimento e religião. Há ainda especializações por escala geográfica de cobertura, o que se desdobra em agências locais, regionais, nacionais e transnacionais.

 

Agência governamental

Uma agência governamental é um tipo de agência de notícias que não apenas pertence a um governo (ou seja, é controlada pelo poder executivo de um estado soberano) mas também serve aos propósitos desse governo, seja para a legítima divulgação de atos administrativos e de políticas públicas, seja para propaganda político-ideológica. Na prática, uma agência governamental é uma estrutura de distribuição de notícias montada por um poder executivo para divulgar atos de governo. Em vários países, a distinção entre agência de notícias a serviço do público e agência governamental é pouco clara, e isso acontece tanto no Sul Global quanto nos países ricos (apesar da pretensão de que estes últimos não fazem propaganda ou a separam da comunicação pública). Em tese, agências governamentais se concentram na cobertura e na divulgação das ações do poder executivo, na transcrição de discursos de autoridades (ministros, secretários, presidente, primeiro-ministro) e, frequentemente, na gestão da publicidade oficial. Uma agência governamental de fato é diferente de um agencioide institucional, que apenas simula ser uma agência de notícias quando na realidade funciona como uma assessoria de imprensa. Por isso, agências governamentais se distinguem pelo fato de efetivamente operarem como agências de notícias. Fora do Brasil, agências governamentais são um modelo comum no Caribe (SKNIS, de São Cristóvão e Névis; BGIS, de Barbados; JIS, da Jamaica; GINA, da Guiana; e o extinto GISL, de Trinidad e Tobago), na Ásia (China News Service; Press Information Bureau, da Índia; National News Bureau, da Tailândia; e o Government Press Office de Israel) e na África (SAnews, da África do Sul; Guinea Ecuatorial Press; o antigo Tanganyika Information Service). Nos EUA, a United States Agency for Global Media (até 1999 chamada de United States Information Agency), que administra a Voz da América e outros veículos de propaganda estadunidense para o exterior, é um exemplo de agência governamental de grandes proporções.

 

Agências internacionais

Termo que designa agências de notícias que atuam em vários países. Frequentemente, é usado como eufemismo para agências estrangeiras. É um termo comum no crédito de matérias de agências publicadas na imprensa, como “Com agências internacionais”, ou na atribuição de apuração alheia, no estilo “Segundo agências internacionais…”. Raramente uma agência é “internacional” no sentido de pertencer a mais de um país (uma exceção famosa é a Reuters, que é de capital ao mesmo tempo britânica e canadense, além de ter sedes em Londres e em Nova York em paridade administrativa e operacional). Em casos de agências de notícias que têm sede em um país e operam em vários ao mesmo tempo, o termo mais preciso é agência transnacional.

 

Agência telegráfica

Outro nome usado para agências de notícias, particularmente do século XIX até meados do século XX, quando o telégrafo elétrico era a principal tecnologia de transmissão e recepção de despachos usada por essas empresas.

 

Agência televisiva

Subcategoria de agências de notícias especializadas no fornecimento de imagens em movimento para televisão. Na sua forma canônica, fornecem às emissoras, via satélite e por feeds em intervalos regulares (a cada hora ou meia hora, inclusive de madrugada), imagens brutas, sem off, ou em fluxo contínuo, com decupagem e transcrição das sonoras sendo emitidas de forma separada. É um ramo minoritário, porém muito lucrativo das agências de notícias, e extremamente importante para a cobertura televisiva do noticiário internacional. Quase sempre, correspondentes de TV gravam apenas a passagem e o áudio do off para ser editado, e as emissoras cobrem esse material com imagens de agências.

Há pelo menos três décadas, o mercado global desse setor é repartido por um duopólio entre a Reuters e a Associated Press (antes vendida sob a marca APTN, de Associated Press Television News). Correndo por fora, estão uma agência britânica, a ITN (subsidiária da rede privada ITV), e uma russa, a Viory (nominalmente, sediada nos Emirados Árabes e sem relação formal com a Rússia), criada depois que sanções europeias inviabilizaram a atuação da sua antecessora, a Ruptly. A China opera a agência CCTV+ no mesmo segmento. No século XXI, as plataformas multimídia e de vídeo, como o YouTube, o Dailymotion, o Instagram e o TikTok, abriram todo um novo filão para o aproveitamento de tal serviço.

Originalmente, esse ramo das agências surgiu com a produção de cinejornais no início do século XX. Nas décadas de 1910 e 1920, agências como a INS (da cadeia de imprensa Hearst) e a United Press (da cadeia Scripps), nos EUA, criaram equipes cinematográficas para filmar eventos noticiáveis e vender aos distribuidores de cinema. Em 1957, foi criada a Visnews, numa parceria entre a Reuters, a rede NBC, dos EUA, e a BBC britânica, para captar imagens em película para a nascente televisão. Dos anos 1960 em diante, trocaria o suporte para o videotape e a transmissão por satélite. Em 1992, a Reuters comprou a Visnews integralmente e transformou-a na Reuters Television. Já a APTN foi criada em 1999 a partir da fusão da agência WTN (Worldwide Television News), então uma das líderes mundiais em telejornalismo, com a estrutura de vídeo da Associated Press, criada quatro anos antes. A WTN, por sua vez, derivava da antiga divisão de TV da UPI norte-americana, herdeira da INS, chamada UPITN (United Press International Television News), que durou de 1967 a 1985, quando mudou de nome para WTN. Embora não seja uma agência de notícias, o canal norte-americano CNN criou uma divisão para comercialização de imagens chamada Newsource em 1987, seguindo o que as redes de TV aberta já tinham feito com a ABC NewsOne (1985) e a CBS Newspath (também 1987). Por contraste, a Bloomberg é uma agência de notícias financeiras que também opera um canal de TV a cabo (Bloomberg TV), o que é diferente de ser uma fornecedora de conteúdo para TV.

No Brasil, o setor é explorado pela Band Content Distribution, de 2011, pela NewSource Globo (divisão da TV Globo claramente inspirada na CNN Newsource), de 2014, e pela Amazon Agency (em inglês, mesmo, pois é voltada para o mercado estrangeiro), lançada em 2023 pela Rede Amazônica. Além de vender vídeos, essas agências televisivas também costumam alugar estúdios, equipamentos e a prestação de serviços técnicos.

 

Agências transnacionais

Termo de viés crítico usado para designar as agências de notícias sediadas em potências e atuantes em vários países, inclusive os periféricos. Adota uma terminologia dos estudos de economia política que propõem trocar o rótulo “empresas multinacionais” para “empresas transnacionais” para demarcar que agem por cima das nações, da soberania dos Estados nacionais, e portanto são manifestações do imperialismo. Uma agência de notícias transnacional é uma empresa que tem sede em um país (em geral, um país central no sistema-mundo) e opera em vários outros, mantendo seu centro de comando (e de decisão editorial) na sede e apenas delegando responsabilidades subalternas às praças e sedes regionais. Este termo é oriundo da pesquisa crítica em comunicação internacional da década de 1970 (Somavía, 1976; Read, 1979; Salinas, 1984), criado por analogia com o termo “empresa transnacional” para rejeitar o rótulo de “multinacional” com que as próprias corporações capitalistas se identificavam. Esse termo enfatiza a assimetria de poder entre os centros de decisão das maiores agências de notícias e as pontas do sistema, em geral localizadas em países periféricos. O termo é muito usado em espanhol, francês e português, mas pouco em inglês, em que predomina a nomenclatura “global news agencies”, mais acrítica.

 

Agencioide institucional

Categoria de serviço muito particular ao Brasil que reivindica a autodenominação “agência de notícias” mas que, na prática, funciona mais como uma assessoria de imprensa, especialmente no contexto de órgãos públicos, autarquias e instâncias dos poderes executivo e legislativo. Encaixam-se nessa definição as “agências” dos governos estaduais, assembleias legislativas, prefeituras, câmaras de vereadores, e órgãos como IBGE, Previdência Social, Polícia Federal, Fiocruz e Ministério do Turismo. No Brasil, o primeiro uso registrado desse tipo de nomenclatura remonta a 1940, com a criação da Agência Rural pelo Serviço de Informação Agrária (SIA) do Ministério da Agricultura no Estado Novo. Tal fenômeno é verificado especialmente no Brasil, apesar de haver usos análogos em países como Alemanha (onde até o Partido Nazista teve um agencioide, a NSK), Argentina e Colômbia. A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) tem a OPECNA e a Organização para a Cooperação Islâmica teve a IINA. O termo foi originalmente proposto na tese de doutorado do coordenador da pesquisa, prof. Pedro Aguiar (UFF), intitulada “Agências de Notícias do Sul Global: jornalismo, Estado e circulação da informação nas periferias do sistema-mundo” (2018).

 

Ampliação

Gênero de despacho que acrescenta mais informações a um flash e um urgente que o precederam. Pode vir com três parágrafos ou mais. Em inglês: update 1; em espanhol: ampliación; em francês: 1er lead (AFP), développement, additif.

 

Análise

Gênero de despacho de agências que faz uma avaliação de conjuntura de alguma situação do noticiário, sempre baseada em fatos, não em opiniões subjetivas. É algo usado com muita parcimônia no jornalismo de agências. Em inglês: analysis, commentary; em espanhol: análisis; em francês: papier d’éclairage, papier d’analyse.

 

Antecipação

Gênero de despacho usado para iniciar a cobertura de um evento previsto e informar aos assinantes de forma preliminar. Deve ser bem curto, objetivo e listar os pontos principais que serão abordados. A antecipação é voltada mais para os jornalistas dos veículos clientes, não tanto como matéria a ser publicada. Em inglês: holding story (Reuters), hold for (AP); em espanhol: avance; em francês: lever de rideau, papier-balai. Ver também prévia e pontos essenciais.

 

Anulação

Tipo de despacho que informa aos clientes a orientação de descartar um despacho já enviado. É de uso raríssimo, empregado somente em casos em que a notícia se revelou falsa ou com graves problemas de apuração. Em inglês: kill, elimination, withhold; em espanhol: anulación; em francês: annulation.

 

Assinante

Cada pessoa jurídica ou física que se inscreve (e, normalmente, paga) para receber os serviços de uma agência de notícias. Assinantes de agências podem ser veículos de comunicação, órgãos de imprensa (jornais, revistas, websites, emissoras de TV, de rádio), mas também empresas de qualquer área (bancos, seguradoras, fábricas, holdings) e órgãos públicos (ministérios, embaixadas, consulados, quartéis militares, centros de pesquisa) que prefiram receber informações antes mesmo que saiam na mídia. Em geral, organizações que têm demanda por informação rápida e constante optam por assinar serviços de agências, o que costuma ser caro. Grandes agências costumam ter mais receita de clientes fora da mídia do que de clientes-mídia. Também existem assinantes que são indivíduos (como investidores do mercado financeiro), mas esse perfil é minoritário. Em inglês, subscriber ou client; em espanhol, abonado; em francês, abonné.

 

Assinatura (de correspondentes e editores)

Em agências, os jornalistas assinam as matérias que fizeram ou editaram usando apenas suas iniciais em caixa baixa. A assinatura aparece como duas ou três letras minúsculas que identificam quem escreveu e quem mexeu no texto de um despacho, sendo cada assinatura separada por um espaço ou uma barra.

 

Atualização

Gênero de despacho que atualiza informações em relação a um despacho que o precedeu, sem nenhuma alteração substancial no texto. É muito usado, por exemplo, para atualizar o número de vítimas de um atentado ou de um acidente. Em inglês: update; em espanhol: actualización; em francês: version actualisée.

 

Banco de imagens

Um banco de imagens é um repositório de produtos visuais classificados e indexados para venda sob demanda, especialmente fotografias, mas também outros tipos de ilustrações estáticas, como desenhos, gráficos, ícones, cliparts, reprodução de pinturas e, mais recentemente, imagens geradas por inteligência artificial. Por extensão, designa também as empresas que vendem acesso a esses repositórios. Algumas delas também são agências de notícias, como a Keystone-SDA, a Getty, a Bilderberg e a Rex Features, enquanto outras são apenas repositórios digitais, como Shutterstock, Alamy, iStock, Envato e Adobe Stock. Imagens em movimento, como filmes, vídeos e animações, são comercializadas por agências televisivas. Várias agências de notícias em sentido estrito (no Brasil e no exterior), como os syndicates, vendem seus acervos fotográficos como banco de imagens para terceiros, especialmente para uso por veículos de imprensa.

 

Big Four (Quatro Grandes)

Termo usado no contexto das agências de notícias entre as décadas de 1960 e 1990 para designar as quatro maiores empresas do bloco capitalista na Guerra Fria: a Reuters (britânica), a AFP (francesa), a Associated Press e a UPI (norte-americanas). Com a decadência da UPI, o quadrunvirato das agências passou a trio, embora a Bloomberg, também dos EUA, seja hoje uma das maiores em porte global. A TASS russa e a Xinhua chinesa, embora muito grandes, jamais foram consideradas parte desse grupo.

 

Boletim

Gênero de despacho usado para notícias “ordinárias”, sem urgência nem grande repercussão. Dentro de uma cobertura, um boletim é usado para enviar textos que dão seguimento ao desenrolar dos fatos. Não é o mesmo que uma newsletter. Em inglês: newsbreak (Reuters), bulletin (AP); em espanhol: boletín; em francês: alerte.

 

Bureau

Cada escritório de agência de notícias fora da redação-sede. Nas agências europeias de línguas latinas (AFP, EFE, ANSA, Lusa), o termo usado para o mesmo significado é “delegação”. Um bureau de agência pode ter dois tipos de equipes (ou ambos): uma de correspondentes, para cobrir aquela praça para o sistema da agência, e outra de editores, para receber o serviço do sistema e editá-lo para os clientes locais.

 

Cabeça tabulada

Matéria feita por um jornal, revista ou website juntando vários despachos de agências e dando créditos ou nominalmente a cada agência utilizada ou de forma genérica e coletiva, sob expressões como “Com agências” ou “Agências internacionais”. Ver também gilette press.

 

Chefe de bureau

Jornalista designado para chefiar a equipe de um bureau (ou delegação) de uma agência de notícias. Tem a incumbência de coordenar os trabalhos para dar conta das coberturas atribuídas à responsabilidade de sua praça (que pode ser longe da cidade onde fica o escritório). Só faz sentido haver chefe quando há mais de um correspondente lotado no bureau. Equivale ao “chefe de sucursal” dos jornais e revistas.

 

Cliente

O serviço de uma agência de notícias é orientado para clientes, não para o público. Os clientes (também chamados de assinantes) são pessoas jurídicas ou – raramente – físicas que assinam para receber os serviços por meio de sistemas (que substituíram os antigos Telex e teletipos). Uma agência de notícias tem clientes mídia e clientes não-mídia: de um lado, há veículos de comunicação (jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV, websites) e outras agências que recebem os serviços noticiosos; de outro, há organizações e empresas de qualquer setor que podem pagar para receber os serviços. Neste segundo grupo, os principais tipos de clientes são bancos, fundos de investimentos, bolsas de valores, seguradoras, indústrias, órgãos públicos (especialmente representações diplomáticas, instalações militares e pastas ministeriais) e outras entidades que tenham demanda por informação rápida e direta, sem ter de esperar a publicação das notícias pela mídia.

 

Consolidado

Gênero de despacho que reúne em um único texto longo vários despachos já enviados mais cedo. Costuma ser remetido aos clientes no final do dia, orientado para o fechamento de jornais, ou após o fluxo de atualizações de um acontecimento se estabilizar. Em inglês: wrapup (Reuters), digest (AP); em espanhol: resumen; em francês: synthèse journée, papier d’ensemble.

 

Contrapauta

Tipo de despacho que antecipa para os clientes a lista dos assuntos que estarão na pauta do dia seguinte, sendo geralmente enviado no final do expediente ou na madrugada. Em inglês: skedline (Reuters), budget (AP); em espanhol: previsión; em francês: prévision.

 

Contrato de distribuição

Espécie de contrato firmado entre uma agência de notícias ou um syndicate e um veículo de comunicação (seja órgão de imprensa ou não) que regula os termos pelos quais um determinado conteúdo (texto, foto, vídeo) é fornecido e pode ser acessado, aproveitado e reproduzido. Em geral, contratos de distribuição limitam o aproveitamento a uma única vez em um produto específico, sendo os usos adicionais cobrados à parte. Ver também syndication e licenciamento de conteúdo.

 

Correção

Tipo de despacho que retifica uma informação (ou no título ou no corpo do texto) de um despacho enviado antes, mas sem alterações estruturais. Por exemplo, um número ou um nome escrito errado, ou um trecho de citação de entrevistados, são objetos comuns de correção. Na agência portuguesa Lusa, é chamado de “reformulada”. Em inglês: correction (Reuters), corrective (AP); em espanhol: corrección; em francês: rectif.

 

Correspondente

Jornalista que trabalha fora da praça sede da redação central. Pode ser correspondente doméstico, quando está no mesmo país, ou correspondente internacional, quando está em outro país em relação à origem da empresa. No caso das agências, os correspondentes têm uma autonomia menor em comparação com os de veículos de comunicação, pois são condicionados pelo ritmo e pelas demandas da redação central, e inserem seus despachos no sistema editorial para serem lidos e editados na sede antes de serem distribuídos aos clientes.

 

Crônica

Termo usado nas agências de notícias hispânicas para designar aquilo que em inglês se chama de feature, mais parecido com uma reportagem, matéria leve ou “matéria de interesse humano”. Não é a mesma coisa que o gênero crônica como entendido no jornalismo brasileiro. Não admite nenhuma forma de ficção nem narrativa literária. Em inglês: feature; em espanhol: crónica; em francês: feature (AFP), reportage.

 

Declaração de Talloires

Documento produzido em 1981 pelas maiores agências de notícias do mundo capitalista em reação contra o Relatório MacBride, da Comissão Internacional da UNESCO para o Estudo de Problemas da Comunicação, e contra a NOMIC. Deve seu nome ao balneário lacustre de Talloires, nos Alpes franceses, à beira do Lago de Annecy. O texto, assinado por Reuters, AP, AFP e UPI, além de entidades patronais da grande imprensa europeia e norte-americana, defende os interesses das agências de notícias comerciais e ataca as iniciativas de regulação internacional da comunicação que a NOMIC defendia. Existe uma outra Declaração de Talloires de 1990, referente ao ensino superior, em nada relacionada às agências de notícias. Existe uma versão em espanhol publicada na revista Chasqui, do CIESPAL.

 

Delegação

termo usado por agências em francês, espanhol e italiano para se referir a bureau.

 

Despacho

Cada unidade de envio de informação feito por uma agência para seus clientes, englobando aí as notícias, os flashes, as fotos, os vídeos, os áudios, os infográficos, os avisos de pautas, as notas aos clientes, as correções e as anulações, entre outros. O termo deriva do antigo uso do telégrafo elétrico no século XIX, quando se despachavam notícias por mensagem telegráfica. Em inglês: wire, dispatch; em espanhol: cable; em francês: dépêche.

 

Direcionamento

Sistema pelo qual os despachos de agências são direcionados para grupos de assinantes e editorias específicas de acordo com metadados inseridos na categorização de cada envio, levando em consideração seus interesses e necessidades específicas (por tipo de serviço, por assunto, por região). Usa códigos padronizados pelo IPTC. O direcionamento serve para filtrar os despachos entre o volume total do serviço e garantir que cada jornalista receba as notícias mais pertinentes para sua área. Em inglês, addressing ou routing; em francês, routage.

 

Documentação

Gênero de despacho que inclui dados brutos sobre algum tema em pauta. Por exemplo: ao cobrir um acidente aéreo, agências costumam mandar despachos com informações de acidentes recentes, número de vítimas, modelos das aeronaves acidentadas, causas e status das investigações. Não deve ser confundido com a ideia de documentação da estrutura “tópico-documentação”. Em inglês: factbox; em espanhol: documentación; em francês: fiche technique.

 

Editor

Jornalista que trabalha na redação central ou num bureau de agência de notícias com a tarefa de editar, revisar, corrigir, adaptar e direcionar os despachos do serviço de uma agência para os clientes. No contexto do jornalismo de agências, editores não necessariamente são chefes, mas apenas exercem a função de editar.

 

Embargo

Tipo de despacho com uma matéria que não pode ser publicada imediatamente pelos clientes, mas deve esperar uma data e hora específicos. A matéria embargada deve trazer logo no início a data e a hora a partir das quais a publicação está liberada. É um recurso muito usado na divulgação de relatórios de grande porte, para que os jornalistas tenham tempo hábil de preparar material. “Furar embargo”, como se chama a publicação antes da hora autorizada, é um pecado grave no jornalismo por quebrar a relação de confiança com a fonte. Em inglês: embargo (Reuters), hold for release (AP); em espanhol: embargada; em francês: embargo.

 

Entrevista

Gênero de despacho inteiramente escrito com base em uma entrevista, mas como texto corrido, não “pingue-pongue”. Em inglês: interview; em espanhol: entrevista; em francês: interview (igual a inglês).

 

Escritório

nome em português para bureau.

 

Fio

Outro nome para serviço noticioso.

 

Fita perfurada

Espécie de suporte para gravação de informações codificadas usado em telégrafo e teletipo, desde o final do século XIX até a informatização no final do século XX. Consiste em uma fita de papel fina, comprida e contínua que sai do aparelho receptor perfurada com pequenos buracos redondos segundo o código Baudot, um código telegráfico criado na França em 1870 para substituir o código Morse norte-americano. De tanto ser usada por agências de notícias, a fita perfurada virou um símbolo do jornalismo de agências, referido de forma visual estilizada em logomarcas de várias empresas do setor, como Reuters, EFE, DPA, Prensa Latina, IRNA, Bernama, WAM, entre muitas outras. Para leigos, o código Baudot pode lembrar visualmente o alfabeto Braille, usado para a leitura tátil por deficientes visuais, mas os dois não têm nenhuma relação.

 

Flash

É o gênero de despacho com maior urgência possível, indicando um fato com altíssimo potencial de noticiabilidade. Tem apenas o título e o lide de uma única frase. Reserva-se para acontecimentos de grande repercussão e inesperados. Tem a função de sinalizar para os jornalistas nos veículos clientes que uma cobertura de grandes proporções está começando. Em inglês: flash, newsalert; em espanhol: flash; em francês: flash (AFP), hors-sac.

 

Fotoagência

Outro termo usado para designar agências de fotojornalismo.

 

Funções de despachos em agências

Além dos gêneros e dos níveis de urgência, os despachos podem ser classificados pela função que cumprem dentro do serviço. Eles servem para que a agência comunique-se com os clientes a respeito do próprio serviço. Nesse caso, além das notícias propriamente ditas, as agências podem enviar orientações aos clientes, como correção, substituição, anulação, embargo e nota aos clientes.

 

Gêneros de despachos em agências

Os gêneros de despachos de agências são as tipologias de texto categorizadas por estilo e pelo uso que os clientes podem fazer. Gêneros são uma classificação diferente de nível de urgência. Os gêneros usados nas agências são, em ordem alfabética: análise, antecipação, consolidado, contrapauta, crônica, cronologia, documentação, entrevista, íntegra, linha do tempo, passo a passo, perfil, pontos essenciais, prévia, reações, resenha de imprensa, suíte, tabela e testemunhal.

 

Gilette press

Termo pejorativo usado nas redações brasileiras dos anos 60 aos 90, antes da informatização, designando o hábito de recortar e colar telegramas impressos das agências (que chegavam por teletipo e Telex) usando uma lâmina e régua para montar textos, como forma de compensar o baixo orçamento e a redução das equipes. Parodiando os nomes de grandes agências, como France-Presse, Associated Press e United Press, os jornalistas se referiam a essa montagem de textos alheios como “Gilette Press”, como se fosse uma agência. Também se usava o termo “pentear telegrama”, já que o ato de ler os despachos sublinhando letras que deveriam sair em maiúsculas (pois o texto vinha todo em caixa alta), acentuando, cortando e traduzindo equivalia a “passar um pente fino” no texto. A digitalização dos processos de produção nas redações facilitou a reprodução automatizada dos conteúdos de agências de notícias e substituiu o “gilete press” pelo “Ctrl+C, Ctrl+V”. Enquanto os processos analógicos, do telex pela máquina de escrever, obrigavam os jornalistas nas redações a reescreverem os textos, e neste processo modificarem, editarem e contextualizarem o que chegava de agências, o recurso da cópia digitalizada agiliza o aproveitamento dos despachos e permite contornar a intermediação antes representada pela função de redator. Neste ponto, o “Ctrl+C, Ctrl+V”  tornou-se um aliado processual da reprodução literal e acrítica dos serviços noticiosos das agências.

 

Informações financeiras

Tipo de serviço prestado por agências de notícias com informações de transações em bolsas de valores, bolsas de mercadorias e futuros, cotações de moedas, commodities, análises de risco, além de noticiário empresarial (resultados, dividendos, investimentos, auditorias, fusões e aquisições) e macroeconômico (juros, política monetária, tributária, trabalhista e previdenciária). É um serviço especialmente voltado para bancos, fundos de investimento, seguradoras, financeiras e corretoras, além de operadores e investidores individuais (traders). Essa categoria de serviço é tão antiga quanto os serviços noticiosos, pois desde a primeira agência de notícias da história, a Havas, fundada em 1835, prestava-se informações da bolsa de Paris para bancos e investidores (a primeira sede da Havas ficava na Place de la Bourse, em frente à bolsa de Paris, o Palais Brongniart). Atualmente, a maior parte da receita da Reuters provém dos serviços de informações financeiras, não noticiosos. Apenas em 2024, segundo o relatório financeiro anual do grupo Thomson-Reuters (págs. 100-101), 57% das receitas recorrentes (assinaturas) da agência Reuters vieram de um único contrato de fornecimento de informações com a bolsa de Londres (LSEG).

 

Íntegra

Gênero de despacho que transcreve um discurso ou um documento (como um relatório) para que os jornalistas dos veículos clientes tenham acesso ao conjunto integral dos textos e possam usar o que lhes for mais conveniente. Em inglês: transcript, full text, verbatim; em espanhol: transcripción; em francês: résumé de documents.

 

IPTC

International Press Telecommunications Council, ou Conselho Internacional de Telecomunicações de Imprensa, consórcio formado por agências de notícias fundado em 1965 e sediado em Windsor, na Inglaterra, perto de Londres. Sua principal função é definir padrões técnicos utilizados pelo setor para permitir o intercâmbio de despachos entre as agências. Na era analógica, o IPTC propunha e mantinha padrões de classificação de despachos de Telex com metadados (como data, hora, procedência, serviço, assunto, retranca, autor, personagens e lugares citados na matéria). Na era informatizada e digital, expandiu o trabalho para a criação de linguagens de marcação (markup languages) usadas para intercomunicar os diferentes sistemas editoriais das agências e garantir o controle de direitos autorais e direitos de reprodução (copyrights), em particular de fotografias. Nascem daí os padrões NewsML, NewsML-G2, NinJS, RightsML, NewsCodes e as classificações padronizadas de assuntos de notícias (media topics). A entidade atende interesses das agências mais ricas, da Europa, da América do Norte e das monarquias petroleiras do Oriente Médio, pois são as que formam sua membresia (conjunto de associados). Além de agências de notícias, também fazem parte do IPTC empresas de bancos de imagem (Getty, Keystone, Shutterstock), empresas de software (Google, Adobe, Sourcefabric) e grandes jornais como o New York Times. Diferentemente do MINDS International, o IPTC congrega também agências de potências emergentes, como a Xinhua (China) e a TASS (Rússia).

 

Jornalismo de agências

O ramo da profissão jornalística desenvolvido nas agências de notícias, incluindo as técnicas específicas, a linguagem particular (às vezes referida como “estilo telegráfico”) e o planejamento editorial estratégico orientado para atender a demandas de clientes, não do grande público.

 

Jornalismo de mídia

O jornalismo exercido nos meios de comunicação, por exclusão do jornalismo de agências e das assessorias de imprensa. Termo proposto nos estudos de agências de notícias para diferenciar a atividade jornalística exercida nelas daquela feita nos veículos (considerando que agências de notícias não são veículos de mídia).

 

Licenciamento de conteúdo

Licenciamento é outro termo para syndication. Na prática, é uma permissão concedida por uma agência mediante cláusulas contratuais (por venda ou por cortesia) para que veículos utilizem seu material noticioso nas próprias edições.

 

Linha do tempo ou cronologia

Gênero de despacho que lista datas de fatos importantes relacionados a uma notícia em pauta ou a um tema que a agência está cobrindo. É útil para os jornalistas nos veículos clientes elaborarem boxes, infográficos ou matérias de memória. Em inglês: timeline, chronology; em espanhol: cronología; em francês: chronologie.

 

Matéria de agência

Termo usado no jornalismo de mídia para designar matérias publicadas com base em despachos de agências de notícias. Pode carregar um sentido depreciativo, com a ideia de que uma matéria de agência, por ser padronizada e despachada para diversos veículos, é “menos valiosa” que aquela produzida “na casa”, na redação, por apuração própria.

 

MINDS International

Consórcio de agências de notícias sediado em Viena e criado em 2007 para promover inovação tecnológica e “melhores práticas”, no espírito corporativo, no setor de agências em escala mundial. Promove seminários, conferências, cursos, organiza pesquisas e publica relatórios para capacitar os gestores, jornalistas e técnicos (especialmente do setor de TI, tecnologia da informação) das empresas associadas em práticas que agilizem suas rotinas de produção, reduzam riscos, incertezas e desperdício de recursos e, portanto, maximizem o faturamento. Entre os membros do MINDS, estão a Associated Press (EUA), Reuters (Reino Unido/EUA/Canadá), AFP (França), DPA (Alemanha), EFE (Espanha), ANSA (Itália), Lusa (Portugal), Kyodo (Japão), PTI (Índia), Anadolu (Turquia), The Canadian Press, AAP (Australian Associated Press) e Keystone-SDA (Suíça), além da maioria das agências nacionais (privadas ou estatais) dos países-membros da União Europeia. De forma sintomática, o consórcio não agrupa grandes agências de potências emergentes, como Xinhua (China), TASS (Rússia), ANA (African News Agency, da África do Sul), SPA (Arábia Saudita) ou NAN (Nigéria).

 

NANAP

O Consórcio ou Pool das Agências de Notícias dos Países Não Alinhados (NANAP na sigla em inglês) foi uma cooperativa de agências nacionais do Movimento dos Países Não Alinhados, um bloco de nações do Terceiro Mundo (atual Sul Global) durante a Guerra Fria. O NANAP existiu formalmente de 1975 a 2005, mas operou com maior eficácia só nos primeiros cinco anos, até 1980. Foi uma das primeiras iniciativas concretas de descolonização da comunicação e foi considerada “a manifestação mais pragmática da NOMIC“. Como era uma época antes da internet e da disseminação das tecnologias digitais, as operações do NANAP dependiam de estruturas analógicas como o telex, a telefonia fixa e transmissões via satélites. As agências não só trocavam textos de notícias entre elas para fugir da dependência em relação às Big Four, mas também treinavam jornalistas e emprestavam equipamentos umas às outras e agiam em conjunto como lobby em organizações multilaterais. Em 2005, o NANAP foi oficialmente extinto e substituído pelo NNN (Nonaligned News Network), um portal reunindo notícias de várias agências do MNA gerenciado pela agência Bernama, da Malásia. Mais informações podem ser obtidas na dissertação de mestrado do coordenador da pesquisa, Pedro Aguiar, e na pesquisa da Rede NANReP.

 

Newswire

Um newswire é um serviço de distribuição de comunicados de imprensa (press releases) que funciona como uma agência de notícias para assessorias de imprensa (ou firmas de relações públicas) ao distribuírem releases para veículos de comunicação. Eles cadastram, gerem e atualizam mailing lists de jornalistas (generalistas e especializados) e operam como intermediários entre as assessorias e os veículos. No exterior, as principais empresas que prestam serviço desse tipo são PR Newswire, AccessWire, News Direct, PR NewsChannel, EIN Presswire (todas dos EUA), Canada NewsWire, MediaLink e FactWire (Hong Kong), Directnews (Alemanha), Newswire (Noruega), Pressport (Dinamarca), JCN (Japão) e Korea Newswire. No Brasil, o mercado é dominado pela DINO (Divulgador de Notícias, às vezes autointitulada “Agência de Notícias Corporativas”), pela Maxpress (que gere o sistema I’Max).

 

Nível de urgência

Metadado de despacho que indica a urgência de uma notícia, o que serve de referência para a prioridade que os jornalistas da agência devem dar à sua edição e envio para os clientes. Em ordem decrescente na nomenclatura padronizada, os níveis são flash, urgente, ampliação e boletim. Segundo os padrões do IPTC, varia entre os valores 1 (mais alto) e 8 (mais baixo), sendo o valor 9 definido pelo usuário.

 

NOMIC

Sigla para Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação (nos primeiros anos também chamada de NOII, de Nova Ordem Internacional da Informação), uma campanha internacional promovida por governos e jornalistas de países do Terceiro Mundo durante a Guerra Fria, especificamente entre 1973 e 1980, para defender uma reestruturação global dos fluxos informativos e dos sistemas de comunicação entre países. Foi um movimento de âmbito mundial que reuniu jornalistas, políticos, diplomatas, gestores de mídia pública, gestores e executivos de operadoras de telecomunicações (especialmente estatais), pesquisadores e acadêmicos na denúncia de que o status quo da comunicação entre países ricos e pobres era injusto e na reivindicação de mudanças estruturais no sistema (ou na ordem) mundial de comunicação e de informação (jornalística, científica, cultural, financeira, estratégica, militar) para que as transações de um país para outro fossem mais equilibradas. Entre tais mudanças, uma das principais era que houvesse regulação de mídia em nível internacional, não apenas nacional em cada país – o que nunca foi feito. Por meio de relatórios embasados em pesquisas científicas quantitativas, a campanha pela NOMIC denunciou as grandes agências de notícias transnacionais (Big Four) como principais agentes do imperialismo de mídia, o que provocou uma oposição ferrenha por parte dessas empresas e dos governos de seus países de origem. O apelo pela NOMIC nasceu na conferência de cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados em Argel, em 1973, e seguiu com vários encontros multilaterais nos anos seguintes. De 1977 em diante, grande parte dos esforços da campanha foi transferida para o âmbito da ONU, na qual a lógica do consenso rege dos debates. A entidade da ONU para comunicação, cultura e ciência, a UNESCO, assumiu o protagonismo e nomeou uma comissão de notáveis de vários países para elaborar um relatório detalhado sobre as assimetrias da comunicação internacional. A comissão e o relatório final ficaram conhecidos pelo nome do seu presidente, o estadista irlandês Seán MacBride. O relatório foi aprovado por aclamação na conferência anual da UNESCO de 1980, em Belgrado, mas suas recomendações nunca foram postas em prática. Em grande parte, o fracasso da NOMIC se deveu à articulação das Big Four (ver Declaração de Talloires) e à decisão dos EUA e do Reino Unido de se retirarem da UNESCO, o que subtraiu o orçamento que a entidade teria para concretizar as ações recomendadas. A iniciativa prática que mais deu certo para a NOMIC, mesmo que por poucos anos, foi o NANAP.

 

Nota aos clientes

Tipo de despacho usado pelas agências de notícias para passar recados aos assinantes. Serve, por exemplo, para avisar da interrupção de algum serviço ou esclarecer alguma alteração numa cobertura regular. Em inglês: advisory; em espanhol: aviso; em francês: mention destinée à la clientèle.

 

Noticiário legível por máquina

Em inglês, machine-readable news. Diz respeito à formatação de despachos de agências de modo que facilite a sua leitura por inteligência artificial para ajudar a incorporá-los a grandes modelos de linguagem (LLM) e alimentar o repertório do aprendizado maquínico da IA gerativa (ou generativa). É um dos segmentos de negócios emergentes para agências de notícias na década de 2020 que abre um novo filão de receita para essas empresas.

 

Pacote multimídia

Um pacote multimídia é um tipo de serviço que agências vendem a clientes reunindo material de diferentes suportes – texto, foto, vídeo, áudio e infográficos – sobre um mesmo assunto ou uma mesma pauta. Pacotes são mais comuns em grandes coberturas de apelo internacional e são especialmente úteis para veículos digitais (como portais de notícias e canais de streaming) montarem seus noticiários para várias plataformas ao mesmo tempo.

 

Passo a passo

Gênero de despacho que lista cada desdobramento de um fato, especialmente daqueles em que a sequência das ações tiver uma importância crítica (um acidente, um atentado, um assalto). É útil para os veículos clientes construírem infográficos. Em inglês: tick-tock, blow-by-blow; em espanhol: secuencia de los hechos, paso a paso; em francês: film des événements. Na agência portuguesa Lusa, é chamado de “filme dos acontecimentos” (por influência do francês).

 

Pentear telegrama

ver Gilette press.

 

Perfil

Gênero de despacho que apresenta as características e uma breve biografia de um personagem do noticiário, especialmente se for alguém que estiver ganhando notoriedade naquele momento. Em inglês: newsmaker; em espanhol: perfil; em francês: portrait.

 

Pontos essenciais

Gênero de despacho que resume numa lista curta o que é fundamental saber sobre determinada notícia em cobertura. É um tipo de texto muito útil para os jornalistas dos veículos clientes elaborarem boxes e infográficos. Em inglês: highlights; em espanhol: panorámica; em francês: bilan ou principaux points.

 

Pool

Um pool é um consórcio de veículos de comunicação ou de agências de notícias que reúnem esforços (equipes, estrutura, equipamentos e dinheiro) para fazer uma cobertura conjunta, trocar informações de apuração e revezar acesso a fontes de informação. Nesses casos, compartilham conteúdo entre os participantes para otimizar recursos. Pools podem ser temporários (como foi o Pool dos Veículos de Imprensa na cobertura da pandemia de covid no Brasil entre 2020 e 2023) ou permanentes, como foi o NANAP e como são o NNN (Nonaligned News Network), o GDA (Grupo de Diarios América) e a ANN (Asia News Network).

 

Praça

Cidade-polo que abriga um bureau de agência ou um correspondente e que tem determinado território sob sua incumbência de cobertura, dependendo do porte da empresa e do grau de atenção editorial que ela der a uma região. Por exemplo: a praça Buenos Aires de uma agência pode ser responsável por cobrir só a Argentina, ou todo o Cone Sul, ou até a América Latina inteira. Ver também bureau e correspondente.

 

Prévia

Gênero de despacho enviado antes de começar uma cobertura de evento previsto, em geral dando informações de contexto e de expectativa para os clientes. Funciona como uma reportagem que levanta questões sobre o que está por vir. Diferentemente da antecipação, é um gênero de texto mais longo, detalhado e destinado a despertar interesse pela cobertura que ainda vai começar. Em inglês: preview, curtainraiser; em espanhol: previa (no México, chamado de semblanza); em francês: avant-papier (AFP), prev (uso informal).

 

Radioagência

Tipo de agência que presta serviços de áudio para rádios, webrádios e podcasts (de forma análoga às agências televisivas e fotográficas). Mais recentemente (desde o século XXI), o termo mídia sonora vem sendo usado para designar o conjunto dos meios de comunicação que operam no formato de áudio, ou seja, os potenciais clientes das radioagências. O Brasil tem tradição nesse setor desde os anos 1930. Uma radioagência é diferente do serviço radiofônico de uma agência de notícias que não seja especificamente dedicada à mídia sonora. A primeira agência de notícias a empregar rádio na transmissão de textos foi a alemã Inafunk-Eildienst (1920-1933), fechada no período nazista. Na Europa pré-Segunda Guerra existiu uma miríade de radioagências, entre as quais se podem citar a Radiojournal e Central European Press/Radio-Central (Tchecoslováquia, 1924-1936), a Yugoradio (Iugoslávia, 1924), a Agenzia Radiona (Itália, 1924), a Agence Radiotric (Grécia, 1926-1927), a Monderadio (Portugal, 1932) e a Agence Radiophonique Universelle (França, 1935). Nos EUA, houve a pequena Transradio Press Service, de 1934 a 1951, fundada por Herbert Moore, ex-repórter de rádio da CBS, em Nova York. Em 1935, a United Press passou a fornecer textos formatados para a leitura em boletins de rádio, que ficaram particularmente conhecidos no radiojornal Repórter Esso (de 1941 até os anos 1970). Em 1958, a UPI lançou seu serviço de áudio, não mais textos, como desdobramento da divisão de cinejornais. O serviço durou até 1999. Em 1947, a Associated Press incorporou emissoras de rádio ao seu rol de clientes, mas só lançou um serviço de áudio em 1974, criando a AP Radio Network (APRN), com 20 edições diárias de boletins gravados e retransmitidos para emissoras do interior dos EUA. Na Europa, o Reuters Voice Service durou apenas de 1972 a 1979. Na Guerra Fria, existiram a Radiopress japonesa (1945-1999), a Radial Press (Espanha, 1964), a Independent Radio News (Reino Unido, 1973) e a Agence de presse pour les radios locales (França, 1984), além da Informacyjna Agencja Radiowa (Polônia, 1992), um pouco mais tarde, e do General News Service (GNS), uma espécie de “radioagência interna” da BBC britânica. Outras agências internacionais que também oferecem serviço de áudio atualmente são a DPA alemã, a ANSA italiana e a PA (Press Association) britânica, além dos podcasts da Reuters, Bloomberg, AP, AFP e EFE. Na América, o serviço de radioagências foi particularmente adotado por movimentos sociais e rádios comunitárias, como a Agencia de la Coordinadora Nacional de Radio (Peru, 1980), a Women’s International News Gathering Service (Canadá, 1986), a Agencia Informativa del Foro Argentino de Radios Comunitarias (Argentina, 2005) e a Cadena de Noticias Aero (Argentina, 2007). A seção brasileira da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC-Brasil) mantém a Agência Pulsar Brasil. Neste website há uma categoria específica para radioagências.

 

Reações

Gênero de despacho que reúne citações de personalidades (entrevistadas, ou que emitiram notas à imprensa ou postaram em mídias sociais) em reação a algum fato, como uma denúncia ou a morte de alguém conhecido. Em inglês: instant view (Reuters); em espanhol: reacciones; em francês: réactions.

 

Redação central

Uma redação central é o departamento jornalístico principal de uma agência de notícias, localizado na sede da empresa (ou organização). Por ela passam todos os despachos enviados por correspondentes. A redação central tem a prerrogativa de receber, editar, modificar, padronizar e direcionar os despachos aos respectivos serviços noticiosos e delegações (bureaux) ao redor do mundo. O termo é de origem espanhola (usado na EFE, na ACN e no El País), mas espalhou-se, especialmente entre agências de línguas latinas. Em inglês não há equivalente perfeito, mas pode-se usar “main newsroom” ou “HQ newsroom”.

 

Rede de correspondentes

Uma rede de correspondentes é um conjunto estruturado de jornalistas alocados em diferentes praças, às quais são atribuídas certas regiões de cobertura. Poucos veículos têm extensas redes de correspondentes (entre as exceções estão as TVs BBC News, CNN, Al Jazeera, os jornais Asahi Shimbun, The New York Times e The Guardian, e as rádios RFI, CRI e Voz da América). Por isso, a maioria dos veículos de imprensa, mesmo os grandes, precisa recorrer ao serviço das agências de notícias, cujas maiores – Reuters, AP, AFP, Xinhua, DPA, EFE, ANSA, TASS – têm correspondentes na maioria dos países do mundo (mas nenhuma em todos). Nesse contexto, é o conjunto de jornalistas espalhados pelo mundo que fornecem notícias para cada agência.

 

Resenha de imprensa

Gênero de despacho que resume os principais destaques dos jornais e revistas publicados numa praça, transcrevendo as manchetes e matérias chamadas na primeira página (jornal) ou capa (revista). É algo muito comum feito por agências de notícias até hoje porque ajuda os clientes a saber o que a imprensa está enfatizando em suas edições. Em inglês: press review, press digest; em espanhol: reseña de prensa, titulares (EFE); em francês: revue de presse.

 

Retranca

Uma retranca numa agência de notícias é um rótulo que identifica e indexa vários despachos de uma mesma pauta ou de uma mesma cobertura. Em geral, é composto por duas palavras, quase sempre a primeira sendo o país (ou região) de origem do fato e a segunda um descritor da pauta, separados por um hífen e tudo em caixa alta. Exemplos: COLÔMBIA-GUERRILHA, ÁSIA-TSUNAMI, PAPA-MORTE. Outros formatos podem usar uma barra para subpautas: PAPA-MORTE/REAÇÕES, PAPA-MORTE/FUNERAL, PAPA-MORTE/SEGURANÇA. O termo é distinto do uso feito no jornalismo impresso e no telejornalismo. Às vezes é usado o termo “guia”, decalcado do espanhol. Em inglês: slug; em espanhol: guía; em francês: slug ou mot-clé.

 

Sede regional

Bureau de uma agência de notícias que, além de servir como praça, concentra a chefia dos serviços que serão direcionados para assinantes de determinada área. Uma agência pode escolher ter sede regional em Buenos Aires para a América Latina, no Cairo para o Oriente Médio e em Tóquio para a Ásia-Pacífico, por exemplo. É nas sedes regionais que o processo de regionalização dos serviços de agências acontece. Por ser autorizada a selecionar, filtrar e adaptar notícias, essa categoria de bureau é uma exceção em termos de autonomia editorial relativa à redação central.

 

Serviço especial (ou Serviço telegráfico)

Termo usado na imprensa brasileira do final do século XIX e início do século XX para designar os serviços de redistribuição de material jornalístico via telégrafo, especialmente de grandes jornais metropolitanos para jornais menores ou do interior. Os mais importantes e longevos do tipo foram o Serviço Especial do Jornal do Commercio (1874-1959), Serviço Especial d’O Paiz (1886-1905) e o Serviço Especial d’O Estado de S.Paulo (1890-1935), antecessor da Agência Estado. Equivale ao inglês syndicate.

 

Serviço fotográfico

Tipo de serviço baseado no fornecimento de fotografias de eventos noticiáveis ou tendo valor informativo de forma autônoma. O serviço fotográfico é uma parte importante e rentável das operações das agências de notícias. Em algumas agências, a venda de fotografias é o que cobre o prejuízo gerado pelo serviço de texto. O mercado para esses serviços é extremamente forte para revistas, jornais e, de forma crescente, portais e sites na internet. Na maior parte dos contratos de assinatura, o fornecimento do serviço de fotos é feito de forma separada do serviço de texto. A cobrança também difere: enquanto pelo texto é pago um valor fixo regular (por mês ou por ano), para as fotografias é mais comum que a agência cobre por unidade, variando a conta para o cliente em função do número de fotos compradas. Desde a digitalização dos sistemas, esse controle costuma ser feito pelo registro de descarga (download) de cada arquivo de imagem nos terminais dos assinantes. As fotografias normalmente são disponibilizadas aos clientes por um sistema que exibe miniaturas (thumbnails, equivalente às antigas “folhas de contato”). Para cada uma, acompanha uma descrição, legenda e os mesmos metadados indicados para os textos respectivos, além de opções de resolução, tamanho e orientação (vertical ou horizontal). O cliente pode escolher comprar apenas fotos e usá-las para ilustrar outro texto redigido por um jornalista “da casa” (o que é muito comum). A fotografia digital acelerou o registro, o tratamento, o processamento e o envio das imagens, das agências para os clientes. Atualmente, uma foto de agência pode chegar aos assinantes em questão de segundos após o clique, já que câmeras com chip de acesso à internet permitem o envio diretamente para a redação central, onde os editores selecionam e remetem as melhores imagens para os clientes. Ver também agência de fotojornalismo.

 

Serviço noticioso

Cada serviço prestado por uma agência em função de fatos do cotidiano ou das apurações de seus correspondentes. Tem o formato de um fluxo ou sequência contínua de notícias transmitidas e atualizadas por uma agência de notícias, em ordem cronológica decrescente (do mais recente para o mais antigo). Difere-se, por exemplo, dos serviços de informações financeiras, fotográfico, televisivo ou de infográficos. Normalmente, é o principal produto de uma agência de notícias, quando não o único. O serviço é assinado pelos clientes mediante pagamento regular, que pode consistir em mais de um formato de conteúdo. Na Folhapress, por exemplo, há o SNG (Serviço Noticioso Geral) e o SNF (Serviço Noticioso Fotográfico). Também chamado de “fio”, termo usado desde muito antes das mídias sociais. Em inglês, news feed; em espanhol, servicio; em francês, fil.

 

Serviços

Os serviços das agências de notícias são os diferentes formatos pelos quais o trabalho produzido pelos jornalistas da equipe é comercializado para os clientes. Alguns dos tipos de serviços noticiosos mais comuns em grandes agências são: notícias em texto, fotografias noticiosas, áudio (para rádio e digital), vídeo (para televisão e digital), infográficos, pacotes multimídia, arquivos (foto e texto), crônicas/features (matérias de interesse humano), dossiês e reportagens especiais, entrevistas, perfis, colunas, artigos de opinião, análises, efemérides, obituário, previsão do tempo, resenha de imprensa, boletins (newsletters), informações financeiras e estatísticas. Fora do âmbito estritamente noticioso, agências menores ou de países periféricos costumam também recorrer a outros tipos de serviços para aumentar seu faturamento. Entre eles, incluem-se press releases, comunicados e transcrição de discursos oficiais, agenda de autoridades, edição de publicações, revistas, anuário político-diplomático (do tipo “quem é quem”), publicidade, anúncios classificados, assessoria de comunicação e credenciamento de imprensa em eventos, aluguel de sala de imprensa e centro de mídia para coletivas e conferências, webmail, hospedagem, criação e manutenção de websites, pesquisas encomendadas e conteúdo personalizado. Agências grandes como Reuters e Bloomberg oferecem ainda serviços de inteligência empresarial para clientes corporativos, incluindo reportagens feitas sob encomenda. A Associated Press também aluga estúdios, equipamentos e instalações para veículos de mídia usarem, especialmente em grandes coberturas (como megaeventos esportivos, conclaves, eleições e crises políticas). As diferentes interfaces de disponibilização dos conteúdos para os clientes (intranet, web, aplicativos, SMS) também podem ser consideradas serviços das agências. Agências que trabalham com vários idiomas usam o mesmo termo para designar a operação de cada um deles, como “serviço em inglês”, “serviço em espanhol”, “serviço em português”.

 

Sistema editorial ou sistema de gestão de conteúdo editorial

Um sistema de uma agência serve para os jornalistas, editores e correspondentes, redigirem e organizarem os despachos que escrevem e enviam. Ele permite escrever, editar, arquivar e recuperar matérias, salvar ou selecionar as que serão enviadas aos clientes e fazer o envio propriamente dito. Quase todos os atuais sistemas editoriais nas agências são conectados a ferramentas de tradução automática por inteligência artificial, o que agiliza muito as rotinas de produção nas redações e bureaux. O sistema usado pelos clientes para acessar os serviços da agência pode ser o mesmo que o sistema editorial ou um sistema separado (caso do Reuters Connect, antigo Reuters Media Express, e do AFP News, antigo AFP Direct), acessível mediante login e senha. Atualmente, cada grande agência tem o seu sistema: o Iris na AFP, a PMU (Plataforma Multimedia Unificada), usada na Espanha desde 2019 e o ENPS, da Associated Press, exportado como produto de software para vários países e veículos. Agências menores, especializadas ou de baixo orçamento podem usar sistemas gratuitos, de software livre, ou simplesmente os pacotes de programas comuns (suítes office).

 

Substituição

Tipo de despacho enviado com orientação para os clientes desconsiderarem a versão anterior e usarem esta no lugar da que já foi enviada. Deve manter o mesmo título do despacho a ser substituído, para que os clientes identifiquem. Na agência portuguesa Lusa também se usa o termo “repetição”. Em inglês: refile; em espanhol: repetición; em francês: refonte, réémission.

 

Suíte

Gênero de despacho que retoma uma notícia e atualiza no dia seguinte com os desdobramentos acontecidos desde o último consolidado ou acrescenta um novo ângulo. É ligeiramente diferente da ideia de suíte no jornalismo de mídia. Nas agências transnacionais, com assinantes localizados em vários fusos horários, esse gênero ajuda os veículos clientes a planejarem suas edições com material fresco, assim como fornece mais notícias recentes para websites. Em inglês: overnighter; em espanhol: nota de seguimiento; em francês: papier de relance.

 

Syndicate

Organização e/ou serviço que redistribui material jornalístico e gêneros acessórios (às vezes chamados de paratextuais ou diversionais) especialmente para a imprensa, como colunas de opinião, previsão do tempo, horóscopo, charges, caricatura, quadrinhos e passatempos (como palavras cruzadas). Ao longo do século XX, esse tipo de material era essencial para preencher páginas de jornais diários, complementando o conteúdo noticioso em estrito senso. Em muitos casos, os syndicates são formados por editoras de jornais (ou cadeias de imprensa) que revendem a terceiros os materiais que já produzem para seus carros-chefe. Em outros, são produtos editoriais oferecidos pelas próprias agências de notícias aos seus clientes, em particular aos jornais diários de cidades médias e do interior, que ainda constituem um mercado relevante. Por isso, grande parte da literatura especializada sobre agências de notícias considera os syndicates como um ramo subordinado ou conexo às agências. Esse é o modelo que predominou no setor das agências de notícias do Brasil desde o século XIX, quando os syndicates eram aqui chamados de serviços especiais ou serviços telegráficos, depois prosseguiu com a Meridional e a Agência JB, manteve-se com os serviços de revenda de fotos das duas maiores editoras de revista, Abril Press e Manchete Press, e continua até hoje com as agências revendedoras dos grandes jornais (Agência Estado, Folhapress e Agência O Globo). Nos EUA e em outros países, ser um colunista syndicated é posição de grande prestígio, já que suas colunas são distribuídas para publicação simultânea em vários jornais. No Brasil, alguns exemplos consolidados de colunas redistribuídas em syndicate são a do jornalista Cláudio Humberto, que foi porta-voz do presidente Fernando Collor, as de Elio Gaspari e Miriam Leitão. Fora do mercado jornalístico em sentido estrito, os syndicates foram muito relevantes para a distribuição de histórias em quadrinhos, tanto na forma de tirinhas para jornais quanto de histórias propriamente ditas para revistas de coletâneas. O serviço prestado por um syndicate é chamado de syndication, print syndication ou news syndication. Traduções possíveis em português para syndication são distribuição, redistribuição ou redifusão de notícias ou licenciamento de conteúdo, ou ainda “serviços de imprensa”, como constava na razão social da Agência JB e da Editora Record. O termo “sindicação” é raramente usado, mas está lexicalizado no VOLP.

 

Tabela

Gênero de despacho que dispõe informações em colunas e linhas. É usado para organizar estatísticas, resultados de jogos, cotações de moedas, previsões do tempo e outras informações brutas. É algo cada vez mais útil para alimentar o jornalismo de dados nos veículos clientes. Em inglês: table; em espanhol: tablas; em francês: tableaux.

 

Telégrafo

Primeira tecnologia de telecomunicações da história, inovadora ao separar a mensagem do seu suporte, cuja disseminação viabilizou o modelo de negócio das primeiras agências de notícias (por esse motivo chamadas também de agências telegráficas pelo menos nos primeiros 100 anos). Originalmente, o termo “telégrafo” foi usado para designar o telégrafo óptico, também chamado semáforo, criado por Claude Chappe em 1792 na França revolucionária. Só em 1837, com invenções desenvolvidas separadamente por Charles Wheatstone e William Cooke, na Inglaterra, e por Samuel Morse e Alfred Vail, nos Estados Unidos, foi criado o telégrafo elétrico. Essa tecnologia usava a transmissão de impulsos elétricos com durações variadas (curtos e longos) por fios de cobre encapados em cabos de resina mole (borracha e guta-percha) dispostos ao longo de milhares de quilômetros, ou suspensos em postes (telégrafo aéreo) ou depositados no fundo do mar (telégrafo submarino). Em cada ponta das linhas, um aparelho com uma única tecla (interruptor) permitia ao emissor codificar a mensagem pressionando para gerar os impulsos, que viajavam pelos fios. Por essa característica, o telégrafo elétrico inicial era um sistema que só permitia transmissão “ponto a ponto”. Na prática, isso significava que as agências tinham de enviar o mesmo despacho várias vezes, uma para cada cliente. Morse e Vail também inventaram o primeiro código aplicado à conversão dos impulsos elétricos em letras e números – o código Morse. O impacto sociocultural, econômico e político do telégrafo elétrico no século XIX foi imenso, já que permitiu a comunicação a longa distância em intervalos de tempo desprezíveis (questão de minutos para cruzar o oceano) pela primeira vez na experiência humana. Nesse contexto, o telégrafo foi parte das transformações da Revolução Industrial. A primeira agência de notícias a usar o telégrafo elétrico foi a Havas, em 1840, e a tecnologia também motivou a criação da Associated Press (1846), Wolff (1849) e Reuters (1851). No final do século XIX, com invenções de Roberto Landell de Moura, Heinrich Hertz, Aleksandr Popov e Guiglelmo Marconi, o envio dos mesmos sinais por ondas eletromagnéticas (rádio) deu início ao “telégrafo sem fio”, ou radiotelégrafo. Essa continuou sendo a tecnologia de transmissão predominante das agências de notícias até o advento do teletipo.

 

Teletipo

Aparelho considerado evolução do telégrafo elétrico, mas que imprimia texto legível (em caracteres alfanuméricos) em vez de codificado como no Morse ou Baudot (fita perfurada). Os teletipos predominaram entre os anos 1930 e 1960, sendo sucedidos pelo Telex. A marca de teletipo mais difundida mundialmente foi a alemã Hellschreiber, seguida pela norte-americana Morkrum, adotada na Associated Press.

 

Telex

Aparelho e rede de telecomunicações que usava a estrutura dos teletipos, mas em máquinas com teclados que permitiam a comunicação bidirecional, ou seja, podiam tanto enviar quanto receber mensagens. Cada agência era designada por um código alfanumérico, e cada aparelho tinha seu próprio “endereço” para direcionar os envios. O texto vinha todo em caixa alta (só maiúsculas) e as máquinas faziam um barulho forte (por isso mesmo, costumavam ficar em salas separadas nas redações). Cada despacho era iniciado pelos metadados escritos e impressos, que orientavam os clientes a como distribuir internamente entre as áreas da empresa (no caso das redações de jornal, esses metadados ajudavam os editores a separar quais despachos iam para cada editoria). A tecnologia foi desenvolvida simultaneamente nos EUA e na Alemanha dos anos 1930, antes da ascensão do nazismo, mas continuou impulsionada nos anos seguintes. No Brasil, a rede Telex foi instalada em 1960, no final do governo Juscelino Kubitschek, atendendo a demandas de várias empresas, entre elas a Agência Meridional, que foi uma das primeiras usuárias. Além das agências de notícias, o Telex também foi muito usado por bancos e representações diplomáticas. Saiu de uso em meados dos anos 1990, com a disseminação da internet e do e-mail. Não tem relação com a marca de aparelhos auditivos homônima.

 

Testemunhal

Gênero de despacho em que o jornalista da agência relata em primeira pessoa o que observou na apuração. Usado muito raramente, só quando carrega valor informativo, sem carregar na pieguice nem subjetividade. Em inglês: witness; em espanhol: crónica (também usado para reportagem); em francês: compte rendu.

 

Urgente

É o gênero de despacho com segundo nível de urgência mais alto, abaixo apenas do flash. Costuma não ter mais que dois parágrafos para não demorar a ser enviado, mantendo a celeridade da notícia. Uma recomendação comum nas agências para diferenciá-lo é que o “urgente” é uma notícia muito importante, mas que já era esperada. Em inglês: newsbreak (Reuters), urgent (AP); em espanhol: urgente; em francês: urgent.

 

Como citar:
AGUIAR, Pedro. Glossário de agências de notícias. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/glossario/.

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