Glossário de jornalismo de agências
Agência alternativa | Agência de checagem | Agência de comunicação | Agência de fotojornalismo | Agência de jornalismo | Agência de notícias | Agência de reportagem | Agência especializada | Agência telegráfica | Agência televisiva | Agencioide institucional | Ampliação | Análise | Antecipação | Anulação | Atualização | Big Four | Boletim | Bureau | Cabeça tabulada | Chefe de bureau | Cliente | Consolidado | Contrapauta | Correção | Correspondente | Crônica | Cronologia | Delegação | Despacho | Documentação | Editor | Embargo | Entrevista | Escritório | Fita perfurada | Flash | Fotoagência | Gilette press | Íntegra | IPTC | Jornalismo de agências | Jornalismo de mídia | Linha do tempo | Matéria de agência | MINDS International | Nível de urgência | Nota aos clientes | Noticiário legível por máquina | Passo a passo | Pentear telegrama | Perfil | Pontos essenciais | Praça | Prévia | Reações | Resenha de imprensa | Serviço especial | Serviço fotográfico | Serviço telegráfico | Serviços | Sistema editorial | Substituição | Suíte | Syndicate | Tabela | Telégrafo | Teletipo | Telex | Testemunhal | Urgente
Como citar:
AGUIAR, Pedro. Glossário de jornalismo de agências. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/glossario/.
Agência alternativa
Classificação geralmente usada por autodeclaração, isto é, por organizações que se denominam agências de notícias, mesmo que não operem em fluxo contínuo com fornecimento de conteúdo a terceiros. Em geral, são apenas websites, sem logística de entrega de informação. Frequentemente, publicam artigos de opinião e análise, sem muita produção de reportagem. Algumas organizações alternativas que de fato operam como agências, inclusive com estrutura de apuração própria, são a IPS (Inter Press Service), ALAI (Agencia Latinoamericana de Información), Adital (Agência de Informação Frei Tito para América Latina), ANF (Agência de Notícias das Favelas), Street News Service (população de rua) e Rabble (Canadá). No passado, houve também a ALASEI (Agencia Latinoamericana de Servicios Especiales de Información). É um tipo de fenômeno bastante particular da América Latina e da esfera cultural iberoamericana, e muitas vezes elas são ligadas a movimentos sociais e ativistas.
Agência de checagem
Tipo de empresa dedicado à verificação de informações ditas por figuras públicas ou apuradas por repórteres. Até os anos 2010, a checagem (em inglês, fact-checking) era considerada parte integrante do trabalho de reportagem dentro das redações, o que, no entanto, vinha sendo dificultado pelas demissões (passaralhos), pelo encolhimento das equipes. Daquela década em diante, começaram a aparecer empresas especializadas que terceirizavam esse tipo de trabalho. Fora do Brasil, esse tipo de empresa não é conhecido pelo termo “agência”, mas equivalentes das palavras “serviços de checagem” ou “websites de checagem”. No Brasil, a primeira empresa a adotar a terminologia “agência de checagem” foi a Agência Lupa, fundada em 2015 no Rio pela jornalista Cristina Tardáguila, pós-graduada em Jornalismo de Agências pela Universidade Rei Juan Carlos e ex-editora da EFE no Rio de Janeiro. No mesmo ano, a jornalista Tai Nalon, também no Rio, fundou a Aos Fatos, que também usava a nomenclatura “agência” no início. O termo era justificado pelo fato de esses serviços inicialmente se basearem no fornecimento do trabalho de checagem a terceiros. Com o tempo, porém, passaram a se sustentar mais por plataformas próprias de publicação e outras fontes de receita (cursos, consultoria, desenvolvimento de ferramentas de software de checagem). Portanto, agências de checagem não são uma subcategoria de agências de notícias, mas todo um outro ramo de atividade. A despeito disso, algumas agências de notícias stricto sensu têm ou tiveram serviços próprios de checagem, como a AFP Factuel (no Brasil, AFP Checamos), desde 2017, EFE Verifica, desde 2019, e a AAP FactCheck (2003-2021).
Agência de comunicação
Tipo de empresa que presta serviços de divulgação para organizações e pessoas (especialmente figuras públicas, famosas e celebridades), abrangendo tanto assessoria de imprensa quanto publicidade. É um setor de negócios completamente distinto das agências de notícias, mas frequentemente confundido por parte de leigos.
Agência de fotojornalismo
Subcategoria de agências de notícias que vende ou fornece fotografias dos eventos noticiáveis do momento. Embora várias agências tenham serviço fotojornalístico, há inúmeras agências especializadas nesse tipo de material, que tem alto valor informativo e mercado pujante. Atenção: nem toda agência fotográfica é de notícias. Algumas, como a famosa Agência Magnum, de Paris, oferecem vários gêneros de imagem, desde artísticas até publicitárias. Bancos de imagens como Getty, Keystone e Shutterstock, por exemplo, podem ter ou não ter serviço fotográfico com a pauta do dia. A Keystone, em particular, comprou a agência suíça SDA em 2017, acrescentando o serviço noticioso ao seu cardápio. O advento da IA gerativa, nos anos 2020, fez várias agências acrescentarem opção de imagens geradas por comando (prompt) ao seu rol de serviços.
Agência de jornalismo
Também chamada de “agência de reportagem”, é outro tipo de empresa concentrado na produção de reportagens, particularmente do estilo investigativo, produzidas para fornecimento a veículos ou para publicação em plataformas próprias (como o website da agência). As agências de jornalismo se diferem das agências de notícias por não acompanharem o noticiário do dia e a lógica da produção em tempo real, mas por produzirem material original (apuração própria), geralmente em uma temporalidade autônoma. Embora “notícia” e “reportagem” sejam ambos gêneros jornalísticos, o que mais distingue as duas categorias de empresas é o fato de as agências de jornalismo não terem rotinas de produção em fluxo contínuo como têm as agências de notícias. No Brasil, as pioneiras dessa categoria foram a Agência Jornalística Pernambucana, de 1907, fundada por Julio Agostinho Bezerra, e a Brazilian Associated Press, que funcionou de 1914 a 1919 em Londres. Talvez a que alcançou maior renome tenha sido a Agência Pública, fundada em 2011 em São Paulo pelas jornalistas Natália Viana e Marina Amaral, fundada na ideia do jornalismo de interesse público. Outros exemplos nacionais são Agência Mural, Amazônia Real, Sportlight, Marco Zero e Agência Nossa. Aliás, o conceito de “agência de jornalismo” é um fenômeno bastante brasileiro, sem tanta equivalência em outros países nem outras línguas – embora haja exemplos pontuais no exterior. Dois deles são a Agencia Periodística Hispano-Americana, criada por Luís Ferrera Acosta em 1946 no México, e a Agencia Latina, fundada em 1950 por peronistas argentinos no Rio de Janeiro; mais recentemente, há a API (Colômbia) e a CIMAC (México). Agências de jornalismo também são nomenclaturas muito adotadas como produtos laboratoriais de cursos de graduação em Jornalismo, embora frequentemente sejam apenas websites, sem agenciar conteúdo para terceiros. Portanto, agências de jornalismo não são uma subcategoria de agências de notícias, mas todo um outro ramo de atividade.
Agência de notícias
Uma agência de notícias é uma organização distribuidora e fornecedora de conteúdo jornalístico em fluxo contínuo. Elas existem justamente para prover os meios de comunicação com notícias e informações que eles não conseguem obter por conta própria. As agências não são “mídia” nem veículos de comunicação porque não publicam diretamente para os leitores e espectadores, mas enviam seu material para os veículos clientes (ou assinantes), que, estes sim, falam diretamente com o público. Elas funcionam, portanto, como “jornais para jornalistas”, já que seus leitores são os profissionais que dão a forma final à notícia, e não os consumidores diretos. Esses veículos (jornais, revistas, emissoras de TV e de rádio, portais de internet, aplicativos de notícias) normalmente pagam uma quantia fixa regular (mensal, semestral, anual…) para ter o direito de reproduzir o conteúdo que as agências fornecem. Se fôssemos comparar com o comércio, diríamos que os veículos vendem informação ao público no “varejo”, enquanto as agências vendem no “atacado”. Por isso mesmo, as agências de notícias são chamadas de “atacadistas da informação”. Elas vendem em grandes quantidades como fornecedoras, enquanto os veículos vendem em quantidades menores diretamente para o consumidor (de informação).
Uma agência de notícias nunca pára: ela está sempre operando, 24 horas por dia e sete dias por semana, para prover seus clientes com informações que eles possam usar como base para montar seu noticiário. Agências têm um potencial multiplicador de seu conteúdo. Uma matéria feita por uma grande agência provavelmente terá alcance muito maior que a matéria de um único jornal, por mais lido que este seja, porque ela será reproduzida em centenas de jornais, websites, emissoras, aplicativos e outras mídias. Por isso mesmo, o cuidado com a precisão da informação deve ser redobrado, já que um erro também será reproduzido e repetido numa escala muito maior que a do cometido por um único veículo.
Uma agência de notícias não é apenas um site na internet, muito menos um blog. Tampouco é um boletim de informações ou de press-release (comunicados de imprensa) servindo a uma instituição (um governo, uma universidade, uma empresa) específica. Verdadeiras agências de notícias precisam fazer seu conteúdo chegar até o cliente. Investem quantias milionárias em tecnologias de transmissão, em telecomunicações, satélites, fibra óptica, linhas dedicadas (de uso exclusivo), intranet e outros canais que possam fazer a informação chegar de forma rápida, segura e sem erros aos clientes que pagam (caro) por ela. Não basta ter um site e encorajar os veículos a copiarem-e-colarem o conteúdo pronto de lá. É preciso cuidar da logística (transporte e armazenamento) da informação.
Outros tipos de empresas (bancos, investidoras, consultorias), instituições públicas (governos, ministérios, autarquias) e até pessoas físicas (como empresários e executivos) também podem assinar serviços de agências para ter acesso rápido à informação, mas custa muito caro.
A Reuters, a Associated Press (AP, dos EUA), a Agence France-Presse (AFP, da França), a DPA (Alemanha), a EFE (Espanha), a ANSA (Itália), a Bloomberg (EUA), a Xinhua (China) e a TASS (Rússia) são algumas das maiores agências do mundo. Como já dito, agências de notícias não são veículos de mídia, mas fornecedoras dos veículos. É comum algumas pessoas confundirem, equivocadamente, grandes empresas de mídia como a CNN, a BBC e a Al-Jazeera com agências de notícias. Essas empresas são emissoras de televisão, mas não agências. Do ponto de vista da natureza jurídica, nem toda agência de notícias é uma empresa: algumas são serviços prestados por veículos jornalísticos (caso dos syndicates e da Agência Brasil, da EBC) ou por órgãos públicos (caso dos agencioides institucionais) enquanto outras são organizações não governamentais. Em português, diz-se “agência de notícias”, com o último termo no plural. A forma “agência de notícia”, no singular, é errada.
Agência de reportagem
Outro nome usado para agências de jornalismo.
Agência especializada
Tipo de agência de notícias dedicada a um tema específico de cobertura. As especializações temáticas mais comuns entre agências são as de esportes, economia e informação financeira, entretenimento e religião. Há ainda especializações por escala geográfica de cobertura, o que se desdobra em agências locais, regionais, nacionais e transnacionais.
Agência telegráfica
Outro nome usado para agências de notícias, particularmente do século XIX até meados do século XX, quando o telégrafo elétrico era a principal tecnologia de transmissão e recepção de despachos usada por essas empresas.
Agência televisiva
Subcategoria de agências de notícias especializadas no fornecimento de imagens em movimento para televisão. Na sua forma canônica, fornecem às emissoras, via satélite e por feeds em intervalos regulares (a cada hora ou meia hora, inclusive de madrugada), imagens brutas, sem off, ou em fluxo contínuo, com decupagem e transcrição das sonoras sendo emitidas de forma separada. É um ramo minoritário, porém muito lucrativo das agências de notícias, e extremamente importante para a cobertura televisiva do noticiário internacional. Quase sempre, correspondentes de TV gravam apenas a passagem e o áudio do off para ser editado, e as emissoras cobrem esse material com imagens de agências.
Há pelo menos três décadas, o mercado global desse setor é repartido por um duopólio entre a Reuters e a Associated Press (antes vendida sob a marca APTN, de Associated Press Television News). Correndo por fora, estão uma agência britânica, a ITN (subsidiária da rede privada ITV), e uma russa, a Viory (nominalmente, sediada nos Emirados Árabes e sem relação formal com a Rússia), criada depois que sanções europeias inviabilizaram a atuação da sua antecessora, a Ruptly. A China opera a agência CCTV+ no mesmo segmento. No século XXI, as plataformas multimídia e de vídeo, como o YouTube, o Dailymotion, o Instagram e o TikTok, abriram todo um novo filão para o aproveitamento de tal serviço.
Originalmente, esse ramo das agências surgiu com a produção de cinejornais no início do século XX. Nas décadas de 1910 e 1920, agências como a INS (da cadeia de imprensa Hearst) e a United Press (da cadeia Scripps), nos EUA, criaram equipes cinematográficas para filmar eventos noticiáveis e vender aos distribuidores de cinema. Em 1957, foi criada a Visnews, numa parceria entre a Reuters, a rede NBC, dos EUA, e a BBC britânica, para captar imagens em película para a nascente televisão. Dos anos 1960 em diante, trocaria o suporte para o videotape e a transmissão por satélite. Em 1992, a Reuters comprou a Visnews integralmente e transformou-a na Reuters Television. Já a APTN foi criada em 1999 a partir da fusão da agência WTN (Worldwide Television News), então uma das líderes mundiais em telejornalismo, com a estrutura de vídeo da Associated Press, criada quatro anos antes. A WTN, por sua vez, derivava da antiga divisão de TV da UPI norte-americana, herdeira da INS, chamada UPITN (United Press International Television News), que durou de 1967 a 1985, quando mudou de nome para WTN. Embora não seja uma agência de notícias, o canal norte-americano CNN criou uma divisão para comercialização de imagens chamada Newsource em 1987, seguindo o que as redes de TV aberta já tinham feito com a ABC NewsOne (1985) e a CBS Newspath (também 1987). Por contraste, a Bloomberg é uma agência de notícias financeiras que também opera um canal de TV a cabo (Bloomberg TV), o que é diferente de ser uma fornecedora de conteúdo para TV.
No Brasil, o setor é explorado pela Band Content Distribution, de 2011, pela Globo Newsource (divisão da TV Globo claramente inspirada na CNN Newsource), de 2014, e pela Amazon Agency (em inglês, mesmo, pois é voltada para o mercado estrangeiro), lançada em 2023 pela Rede Amazônica. Além de vender vídeos, essas agências televisivas também costumam alugar estúdios, equipamentos e a prestação de serviços técnicos.
Agencioide institucional
Categoria de serviço muito particular ao Brasil que reivindica a autodenominação “agência de notícias” mas que, na prática, funciona mais como uma assessoria de imprensa, especialmente no contexto de órgãos públicos, autarquias e instâncias dos poderes executivo e legislativo. Encaixam-se nessa definição as “agências” dos governos estaduais, assembleias legislativas, prefeituras, câmaras de vereadores, e órgãos como IBGE, Previdência Social, Polícia Federal, Fiocruz e Ministério do Turismo. No Brasil, o primeiro uso registrado desse tipo de nomenclatura remonta a 1940, com a criação da Agência Rural pelo Serviço de Informação Agrária (SIA) do Ministério da Agricultura no Estado Novo. Tal fenômeno é verificado especialmente no Brasil, apesar de haver usos análogos em países como Alemanha (onde até o Partido Nazista teve um agencioide, a NSK), Argentina e Colômbia. A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) tem a OPECNA e a Organização para a Cooperação Islâmica teve a IINA. O termo foi originalmente proposto na tese de doutorado do coordenador da pesquisa, prof. Pedro Aguiar (UFF), intitulada “Agências de Notícias do Sul Global: jornalismo, Estado e circulação da informação nas periferias do sistema-mundo” (2018).
Ampliação
Gênero de despacho que acrescenta mais informações a um flash e um urgente que o precederam. Pode vir com três parágrafos ou mais. Em inglês: update 1; em espanhol: ampliación; em francês: 1er lead (AFP), développement, additif.
Análise
Gênero de despacho de agências que faz uma avaliação de conjuntura de alguma situação do noticiário, sempre baseada em fatos, não em opiniões subjetivas. É algo usado com muita parcimônia no jornalismo de agências. Em inglês: analysis, commentary; em espanhol: análisis; em francês: papier d’éclairage, papier d’analyse.
Antecipação
Gênero de despacho usado para iniciar a cobertura de um evento previsto e informar aos assinantes de forma preliminar. Deve ser bem curto, objetivo e listar os pontos principais que serão abordados. A antecipação é voltada mais para os jornalistas dos veículos clientes, não tanto como matéria a ser publicada. Em inglês: holding story (Reuters), hold for (AP); em espanhol: avance; em francês: lever de rideau, papier-balai. Ver também prévia e pontos essenciais.
Anulação
Tipo de despacho que informa aos clientes a orientação de descartar um despacho já enviado. É de uso raríssimo, empregado somente em casos em que a notícia se revelou falsa ou com graves problemas de apuração. Em inglês: kill, elimination, withhold; em espanhol: anulación; em francês: annulation.
Atualização
Gênero de despacho que atualiza informações em relação a um despacho que o precedeu, sem nenhuma alteração substancial no texto. É muito usado, por exemplo, para atualizar o número de vítimas de um atentado ou de um acidente. Em inglês: update; em espanhol: actualización; em francês: version actualisée.
Big Four (Quatro Grandes)
Termo usado no contexto das agências de notícias entre as décadas de 1960 e 1990 para designar as quatro maiores empresas do bloco capitalista na Guerra Fria: a Reuters (britânica), a AFP (francesa), a Associated Press e a UPI (norte-americanas). Com a decadência da UPI, o quadrunvirato das agências passou a trio, embora a Bloomberg, também dos EUA, seja hoje uma das maiores em porte global. A TASS russa e a Xinhua chinesa, embora muito grandes, jamais foram consideradas parte desse grupo.
Boletim
Gênero de despacho usado para notícias “ordinárias”, sem urgência nem grande repercussão. Dentro de uma cobertura, um boletim é usado para enviar textos que dão seguimento ao desenrolar dos fatos. Não é o mesmo que uma newsletter. Em inglês: newsbreak (Reuters), bulletin (AP); em espanhol: boletín; em francês: alerte.
Bureau
Cada escritório de agência de notícias fora da redação-sede. Nas agências europeias de línguas latinas (AFP, EFE, ANSA, Lusa), o termo usado para o mesmo significado é “delegação”. Um bureau de agência pode ter dois tipos de equipes (ou ambos): uma de correspondentes, para cobrir aquela praça para o sistema da agência, e outra de editores, para receber o serviço do sistema e editá-lo para os clientes locais.
Cabeça tabulada
Matéria feita por um jornal, revista ou website juntando vários despachos de agências e dando créditos ou nominalmente a cada agência utilizada ou de forma genérica e coletiva, sob expressões como “Com agências” ou “Agências internacionais”. Ver também gilette press.
Chefe de bureau
Jornalista designado para chefiar a equipe de um bureau (ou delegação) de uma agência de notícias. Tem a incumbência de coordenar os trabalhos para dar conta das coberturas atribuídas à responsabilidade de sua praça (que pode ser longe da cidade onde fica o escritório). Só faz sentido haver chefe quando há mais de um correspondente lotado no bureau. Equivale ao “chefe de sucursal” dos jornais e revistas.
Cliente
O serviço de uma agência de notícias é orientado para clientes, não para o público. Os clientes (também chamados de assinantes) são pessoas jurídicas ou – raramente – físicas que assinam para receber os serviços por meio de sistemas (que substituíram os antigos Telex e teletipos). Uma agência de notícias tem clientes mídia e clientes não-mídia: de um lado, há veículos de comunicação (jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV, websites) e outras agências que recebem os serviços noticiosos; de outro, há organizações e empresas de qualquer setor que podem pagar para receber os serviços. Neste segundo grupo, os principais tipos de clientes são bancos, fundos de investimentos, bolsas de valores, seguradoras, indústrias, órgãos públicos (especialmente representações diplomáticas, instalações militares e pastas ministeriais) e outras entidades que tenham demanda por informação rápida e direta, sem ter de esperar a publicação das notícias pela mídia.
Consolidado
Gênero de despacho que reúne em um único texto longo vários despachos já enviados mais cedo. Costuma ser remetido aos clientes no final do dia, orientado para o fechamento de jornais, ou após o fluxo de atualizações de um acontecimento se estabilizar. Em inglês: wrapup (Reuters), digest (AP); em espanhol: resumen; em francês: synthèse journée, papier d’ensemble.
Contrapauta
Tipo de despacho que antecipa para os clientes a lista dos assuntos que estarão na pauta do dia seguinte, sendo geralmente enviado no final do expediente ou na madrugada. Em inglês: skedline (Reuters), budget (AP); em espanhol: previsión; em francês: prévision.
Correção
Tipo de despacho que retifica uma informação (ou no título ou no corpo do texto) de um despacho enviado antes, mas sem alterações estruturais. Por exemplo, um número ou um nome escrito errado, ou um trecho de citação de entrevistados, são objetos comuns de correção. Na agência portuguesa Lusa, é chamado de “reformulada”. Em inglês: correction (Reuters), corrective (AP); em espanhol: corrección; em francês: rectif.
Correspondente
Jornalista que trabalha fora da praça sede da redação central. Pode ser correspondente doméstico, quando está no mesmo país, ou correspondente internacional, quando está em outro país em relação à origem da empresa. No caso das agências, os correspondentes têm uma autonomia menor em comparação com os de veículos de comunicação, pois são condicionados pelo ritmo e pelas demandas da redação central, e inserem seus despachos no sistema editorial para serem lidos e editados na sede antes de serem distribuídos aos clientes.
Crônica
Termo usado nas agências de notícias hispânicas para designar aquilo que em inglês se chama de feature, mais parecido com uma reportagem, matéria leve ou “matéria de interesse humano”. Não é a mesma coisa que o gênero crônica como entendido no jornalismo brasileiro. Não admite nenhuma forma de ficção nem narrativa literária. Em inglês: feature; em espanhol: crónica; em francês: feature (AFP), reportage.
Delegação
termo usado por agências em francês, espanhol e italiano para se referir a bureau.
Despacho
Cada unidade de envio de informação feito por uma agência para seus clientes, englobando aí as notícias, os flashes, as fotos, os vídeos, os áudios, os infográficos, os avisos de pautas, as notas aos clientes, as correções e as anulações, entre outros. O termo deriva do antigo uso do telégrafo elétrico no século XIX, quando se despachavam notícias por mensagem telegráfica. Em inglês: wire, dispatch; em espanhol: cable; em francês: dépêche.
Documentação
Gênero de despacho que inclui dados brutos sobre algum tema em pauta. Por exemplo: ao cobrir um acidente aéreo, agências costumam mandar despachos com informações de acidentes recentes, número de vítimas, modelos das aeronaves acidentadas, causas e status das investigações. Não deve ser confundido com a ideia de documentação da estrutura “tópico-documentação”. Em inglês: factbox; em espanhol: documentación; em francês: fiche technique.
Editor
Jornalista que trabalha na redação central ou num bureau de agência de notícias com a tarefa de editar, revisar, corrigir, adaptar e direcionar os despachos do serviço de uma agência para os clientes. No contexto do jornalismo de agências, editores não necessariamente são chefes, mas apenas exercem a função de editar.
Embargo
Tipo de despacho com uma matéria que não pode ser publicada imediatamente pelos clientes, mas deve esperar uma data e hora específicos. A matéria embargada deve trazer logo no início a data e a hora a partir das quais a publicação está liberada. É um recurso muito usado na divulgação de relatórios de grande porte, para que os jornalistas tenham tempo hábil de preparar material. “Furar embargo”, como se chama a publicação antes da hora autorizada, é um pecado grave no jornalismo por quebrar a relação de confiança com a fonte. Em inglês: embargo (Reuters), hold for release (AP); em espanhol: embargada; em francês: embargo.
Entrevista
Gênero de despacho inteiramente escrito com base em uma entrevista, mas como texto corrido, não “pingue-pongue”. Em inglês: interview; em espanhol: entrevista; em francês: interview (igual a inglês).
Escritório
nome em português para bureau.
Fita perfurada
Espécie de suporte para gravação de informações codificadas usado em telégrafo e teletipo, desde o final do século XIX até a informatização no final do século XX. Consiste em uma fita de papel fina, comprida e contínua que sai do aparelho receptor perfurada com pequenos buracos redondos segundo o código Baudot, um código telegráfico criado na França em 1870 para substituir o código Morse norte-americano. De tanto ser usada por agências de notícias, a fita perfurada virou um símbolo do jornalismo de agências, referido de forma visual estilizada em logomarcas de várias empresas do setor, como Reuters, EFE, DPA, Prensa Latina, IRNA, Bernama, WAM, entre muitas outras. Para leigos, o código Baudot pode lembrar visualmente o alfabeto Braille, usado para a leitura tátil por deficientes visuais, mas os dois não têm nenhuma relação.
Flash
É o gênero de despacho com maior urgência possível, indicando um fato com altíssimo potencial de noticiabilidade. Tem apenas o título e o lide de uma única frase. Reserva-se para acontecimentos de grande repercussão e inesperados. Tem a função de sinalizar para os jornalistas nos veículos clientes que uma cobertura de grandes proporções está começando. Em inglês: flash, newsalert; em espanhol: flash; em francês: flash (AFP), hors-sac.
Fotoagência
Outro termo usado para designar agências de fotojornalismo.
Gilette press
Termo pejorativo usado nas redações brasileiras dos anos 60 aos 90, antes da informatização, designando o hábito de recortar e colar telegramas impressos das agências (que chegavam por teletipo e Telex) usando uma lâmina e régua para montar textos, como forma de compensar o baixo orçamento e a redução das equipes. Parodiando os nomes de grandes agências, como France-Presse, Associated Press e United Press, os jornalistas se referiam a essa montagem de textos alheios como “Gilette Press”, como se fosse uma agência. Também se usava o termo “pentear telegrama”, já que o ato de ler os despachos sublinhando letras que deveriam sair em maiúsculas (pois o texto vinha todo em caixa alta), acentuando, cortando e traduzindo equivalia a “passar um pente fino” no texto. A digitalização dos processos de produção nas redações facilitou a reprodução automatizada dos conteúdos de agências de notícias e substituiu o “gilete press” pelo “Ctrl+C, Ctrl+V”. Enquanto os processos analógicos, do telex pela máquina de escrever, obrigavam os jornalistas nas redações a reescreverem os textos, e neste processo modificarem, editarem e contextualizarem o que chegava de agências, o recurso da cópia digitalizada agiliza o aproveitamento dos despachos e permite contornar a intermediação antes representada pela função de redator. Neste ponto, o “Ctrl+C, Ctrl+V” tornou-se um aliado processual da reprodução literal e acrítica dos serviços noticiosos das agências.
Íntegra
Gênero de despacho que transcreve um discurso ou um documento (como um relatório) para que os jornalistas dos veículos clientes tenham acesso ao conjunto integral dos textos e possam usar o que lhes for mais conveniente. Em inglês: transcript, full text, verbatim; em espanhol: transcripción; em francês: résumé de documents.
IPTC
International Press Telecommunications Council, ou Conselho Internacional de Telecomunicações de Imprensa, consórcio formado por agências de notícias fundado em 1965 e sediado em Windsor, na Inglaterra, perto de Londres. Sua principal função é definir padrões técnicos utilizados pelo setor para permitir o intercâmbio de despachos entre as agências. Na era analógica, o IPTC propunha e mantinha padrões de classificação de despachos de Telex com metadados (como data, hora, procedência, serviço, assunto, retranca, autor, personagens e lugares citados na matéria). Na era informatizada e digital, expandiu o trabalho para a criação de linguagens de marcação (markup languages) usadas para intercomunicar os diferentes sistemas editoriais das agências e garantir o controle de direitos autorais e direitos de reprodução (copyrights), em particular de fotografias. Nascem daí os padrões NewsML, NewsML-G2, NinJS, RightsML, NewsCodes e as classificações padronizadas de assuntos de notícias (media topics). A entidade atende interesses das agências mais ricas, da Europa, da América do Norte e das monarquias petroleiras do Oriente Médio, pois são as que formam sua membresia (conjunto de associados). Além de agências de notícias, também fazem parte do IPTC bancos de imagem (Getty, Keystone, Shutterstock), empresas de software (Google, Adobe, Sourcefabric) e grandes jornais como o New York Times. Diferentemente do MINDS International, o IPTC congrega também agências de potências emergentes, como a Xinhua (China) e a TASS (Rússia).
Jornalismo de agências
O ramo da profissão jornalística desenvolvido nas agências de notícias, incluindo as técnicas específicas, a linguagem particular (às vezes referida como “estilo telegráfico”) e o planejamento editorial estratégico orientado para atender a demandas de clientes, não do grande público.
Jornalismo de mídia
O jornalismo exercido nos meios de comunicação, por exclusão do jornalismo de agências e das assessorias de imprensa. Termo proposto nos estudos de agências de notícias para diferenciar a atividade jornalística exercida nelas daquela feita nos veículos (considerando que agências de notícias não são veículos de mídia).
Linha do tempo ou cronologia
Gênero de despacho que lista datas de fatos importantes relacionados a uma notícia em pauta ou a um tema que a agência está cobrindo. É útil para os jornalistas nos veículos clientes elaborarem boxes, infográficos ou matérias de memória. Em inglês: timeline, chronology; em espanhol: cronología; em francês: chronologie.
Matéria de agência
Termo usado no jornalismo de mídia para designar matérias publicadas com base em despachos de agências de notícias. Pode carregar um sentido depreciativo, com a ideia de que uma matéria de agência, por ser padronizada e despachada para diversos veículos, é “menos valiosa” que aquela produzida “na casa”, na redação, por apuração própria.
MINDS International
Consórcio de agências de notícias sediado em Viena e criado em 2007 para promover inovação tecnológica e “melhores práticas”, no espírito corporativo, no setor de agências em escala mundial. Promove seminários, conferências, cursos, organiza pesquisas e publica relatórios para capacitar os gestores, jornalistas e técnicos (especialmente do setor de TI, tecnologia da informação) das empresas associadas em práticas que agilizem suas rotinas de produção, reduzam riscos, incertezas e desperdício de recursos e, portanto, maximizem o faturamento. Entre os membros do MINDS, estão a Associated Press (EUA), Reuters (Reino Unido/EUA/Canadá), AFP (França), DPA (Alemanha), EFE (Espanha), ANSA (Itália), Lusa (Portugal), Kyodo (Japão), PTI (Índia), Anadolu (Turquia), The Canadian Press, AAP (Australian Associated Press) e Keystone-SDA (Suíça), além da maioria das agências nacionais (privadas ou estatais) dos países-membros da União Europeia. De forma sintomática, o consórcio não agrupa grandes agências de potências emergentes, como Xinhua (China), TASS (Rússia), ANA (African News Agency, da África do Sul), SPA (Arábia Saudita) ou NAN (Nigéria).
Nível de urgência
Metadado de despacho que indica a urgência de uma notícia, o que serve de referência para a prioridade que os jornalistas da agência devem dar à sua edição e envio para os clientes. Em ordem decrescente na nomenclatura padronizada, os níveis são flash, urgente, ampliação e boletim. Segundo os padrões do IPTC, varia entre os valores 1 (mais alto) e 8 (mais baixo), sendo o valor 9 definido pelo usuário.
Nota aos clientes
Tipo de despacho usado pelas agências de notícias para passar recados aos assinantes. Serve, por exemplo, para avisar da interrupção de algum serviço ou esclarecer alguma alteração numa cobertura regular. Em inglês: advisory; em espanhol: aviso; em francês: mention destinée à la clientèle.
Noticiário legível por máquina
Em inglês, machine-readable news. Diz respeito à formatação de despachos de agências de modo que facilite a sua leitura por inteligência artificial para ajudar a incorporá-los a grandes modelos de linguagem (LLM) e alimentar o repertório do aprendizado maquínico da IA gerativa (ou generativa). É um dos segmentos de negócios emergentes para agências de notícias na década de 2020 que abre um novo filão de receita para essas empresas.
Passo a passo
Gênero de despacho que lista cada desdobramento de um fato, especialmente daqueles em que a sequência das ações tiver uma importância crítica (um acidente, um atentado, um assalto). É útil para os veículos clientes construírem infográficos. Em inglês: tick-tock, blow-by-blow; em espanhol: secuencia de los hechos, paso a paso; em francês: film des événements. Na agência portuguesa Lusa, é chamado de “filme dos acontecimentos” (por influência do francês).
Pentear telegrama
ver Gilette press.
Perfil
Gênero de despacho que apresenta as características e uma breve biografia de um personagem do noticiário, especialmente se for alguém que estiver ganhando notoriedade naquele momento. Em inglês: newsmaker; em espanhol: perfil; em francês: portrait.
Pontos essenciais
Gênero de despacho que resume numa lista curta o que é fundamental saber sobre determinada notícia em cobertura. É um tipo de texto muito útil para os jornalistas dos veículos clientes elaborarem boxes e infográficos. Em inglês: highlights; em espanhol: panorámica; em francês: bilan.
Praça
Cidade-polo que abriga um bureau de agência ou um correspondente e que tem determinado território sob sua incumbência de cobertura, dependendo do porte da empresa e do grau de atenção editorial que ela der a uma região. Por exemplo: a praça Buenos Aires de uma agência pode ser responsável por cobrir só a Argentina, ou todo o Cone Sul, ou até a América Latina inteira. Ver também bureau e correspondente.
Prévia
Gênero de despacho enviado antes de começar uma cobertura de evento previsto, em geral dando informações de contexto e de expectativa para os clientes. Funciona como uma reportagem que levanta questões sobre o que está por vir. Diferentemente da antecipação, é um gênero de texto mais longo, detalhado e destinado a despertar interesse pela cobertura que ainda vai começar. Em inglês: preview, curtainraiser; em espanhol: previa (no México, chamado de semblanza); em francês: avant-papier (AFP), prev (uso informal).
Reações
Gênero de despacho que reúne citações de personalidades (entrevistadas, ou que emitiram notas à imprensa ou postaram em mídias sociais) em reação a algum fato, como uma denúncia ou a morte de alguém conhecido. Em inglês: instant view (Reuters); em espanhol: reacciones; em francês: réactions.
Resenha de imprensa
Gênero de despacho que resume os principais destaques dos jornais e revistas publicados numa praça, transcrevendo as manchetes e matérias chamadas na primeira página (jornal) ou capa (revista). É algo muito comum feito por agências de notícias até hoje porque ajuda os clientes a saber o que a imprensa está enfatizando em suas edições. Em inglês: press review, press digest; em espanhol: reseña de prensa, titulares (EFE); em francês: revue de presse.
Serviço especial (ou Serviço telegráfico)
Termo usado na imprensa brasileira do final do século XIX e início do século XX para designar os serviços de redistribuição de material jornalístico via telégrafo, especialmente de grandes jornais metropolitanos para jornais menores ou do interior. Os mais importantes e longevos do tipo foram o Serviço Especial do Jornal do Commercio (1874-1959), Serviço Especial d’O Paiz (1886-1905) e o Serviço Especial d’O Estado de S.Paulo (1890-1935), antecessor da Agência Estado. Equivale ao inglês syndicate.
Serviço fotográfico
Tipo de serviço baseado no fornecimento de fotografias de eventos noticiáveis ou tendo valor informativo de forma autônoma. O serviço fotográfico é uma parte importante e rentável das operações das agências de notícias. Em algumas agências, a venda de fotografias é o que cobre o prejuízo gerado pelo serviço de texto. O mercado para esses serviços é extremamente forte para revistas, jornais e, de forma crescente, portais e sites na internet. Na maior parte dos contratos de assinatura, o fornecimento do serviço de fotos é feito de forma separada do serviço de texto. A cobrança também difere: enquanto pelo texto é pago um valor fixo regular (por mês ou por ano), para as fotografias é mais comum que a agência cobre por unidade, variando a conta para o cliente em função do número de fotos compradas. Desde a digitalização dos sistemas, esse controle costuma ser feito pelo registro de descarga (download) de cada arquivo de imagem nos terminais dos assinantes. As fotografias normalmente são disponibilizadas aos clientes por um sistema que exibe miniaturas (thumbnails, equivalente às antigas “folhas de contato”). Para cada uma, acompanha uma descrição, legenda e os mesmos metadados indicados para os textos respectivos, além de opções de resolução, tamanho e orientação (vertical ou horizontal). O cliente pode escolher comprar apenas fotos e usá-las para ilustrar outro texto redigido por um jornalista “da casa” (o que é muito comum). A fotografia digital acelerou o registro, o tratamento, o processamento e o envio das imagens, das agências para os clientes. Atualmente, uma foto de agência pode chegar aos assinantes em questão de segundos após o clique, já que câmeras com chip de acesso à internet permitem o envio diretamente para a redação central onde os editores selecionam e remetem as melhores imagens para os clientes. Ver também agência de fotojornalismo.
Serviços
Os serviços das agências de notícias são os diferentes formatos pelos quais o trabalho produzido pelos jornalistas da equipe é comercializado para os clientes. Alguns dos tipos de serviços noticiosos mais comuns em grandes agências são: notícias em texto, fotografias noticiosas, áudio (para rádio e digital), vídeo (para televisão e digital), infográficos, pacotes multimídia, arquivos (foto e texto), crônicas/features (matérias de interesse humano), dossiês e reportagens especiais, entrevistas, perfis, colunas, artigos de opinião, análises, efemérides, obituário, previsão do tempo, resenha de imprensa, boletins (newsletters), informações financeiras e estatísticas. Fora do âmbito estritamente noticioso, agências menores ou de países periféricos costumam também recorrer a outros tipos de serviços para aumentar seu faturamento. Entre eles, incluem-se press releases, comunicados e transcrição de discursos oficiais, agenda de autoridades, edição de publicações, revistas, anuário político-diplomático (do tipo “quem é quem”), publicidade, anúncios classificados, assessoria de comunicação e credenciamento de imprensa em eventos, aluguel de sala de imprensa e centro de mídia para coletivas e conferências, webmail, hospedagem, criação e manutenção de websites, pesquisas encomendadas e conteúdo personalizado. Agências grandes como Reuters e Bloomberg oferecem ainda serviços de inteligência empresarial para clientes corporativos, incluindo reportagens feitas sob encomenda. A Associated Press também aluga estúdios, equipamentos e instalações para veículos de mídia usarem, especialmente em grandes coberturas (como megaeventos esportivos, conclaves, eleições e crises políticas). As diferentes interfaces de disponibilização dos conteúdos para os clientes (intranet, web, aplicativos, SMS) também podem ser consideradas serviços das agências. Agências que trabalham com vários idiomas usam o mesmo termo para designar a operação de cada um deles, como “serviço em inglês”, “serviço em espanhol”, “serviço em português”.
Sistema editorial ou sistema de gestão de conteúdo editorial
Um sistema de uma agência serve para os jornalistas, editores e correspondentes, redigirem e organizarem os despachos que escrevem e enviam. Ele permite escrever, editar, arquivar e recuperar matérias, salvar ou selecionar as que serão enviadas aos clientes e fazer o envio propriamente dito. Quase todos os atuais sistemas editoriais nas agências são conectados a ferramentas de tradução automática por inteligência artificial, o que agiliza muito as rotinas de produção nas redações e bureaux. O sistema usado pelos clientes para acessar os serviços da agência pode ser o mesmo que o sistema editorial ou um sistema separado (caso do Reuters Connect, antigo Reuters Media Express, e do AFP News, antigo AFP Direct), acessível mediante login e senha. Atualmente, cada grande agência tem o seu sistema: o Iris na AFP, a PMU (Plataforma Multimedia Unificada), usada na Espanha desde 2019 e o ENPS, da Associated Press, exportado como produto de software para vários países e veículos. Agências menores, especializadas ou de baixo orçamento podem usar sistemas gratuitos, de software livre, ou simplesmente os pacotes de programas comuns (suítes office).
Substituição
Tipo de despacho enviado com orientação para os clientes desconsiderarem a versão anterior e usarem esta no lugar da que já foi enviada. Deve manter o mesmo título do despacho a ser substituído, para que os clientes identifiquem. Na agência portuguesa Lusa também se usa o termo “repetição”. Em inglês: refile; em espanhol: repetición; em francês: refonte, réémission.
Suíte
Gênero de despacho que retoma uma notícia e atualiza no dia seguinte com os desdobramentos acontecidos desde o último consolidado ou acrescenta um novo ângulo. É ligeiramente diferente da ideia de suíte no jornalismo de mídia. Nas agências transnacionais, com assinantes localizados em vários fusos horários, esse gênero ajuda os veículos clientes a planejarem suas edições com material fresco, assim como fornece mais notícias recentes para websites. Em inglês: overnighter; em espanhol: nota de seguimiento; em francês: papier de relance.
Syndicate
Organização e/ou serviço que redistribui material jornalístico e gêneros acessórios (às vezes chamados de paratextuais ou diversionais) especialmente para a imprensa, como colunas de opinião, previsão do tempo, horóscopo, charges, caricatura, quadrinhos e passatempos (como palavras cruzadas). Ao longo do século XX, esse tipo de material era essencial para preencher páginas de jornais diários, complementando o conteúdo noticioso em estrito senso. Em muitos casos, os syndicates são formados por editoras de jornais (ou cadeias de imprensa) que revendem a terceiros os materiais que já produzem para seus carros-chefe. Em outros, são produtos editoriais oferecidos pelas próprias agências de notícias aos seus clientes, em particular aos jornais diários de cidades médias e do interior, que ainda constituem um mercado relevante. Por isso, grande parte da literatura especializada sobre agências de notícias considera os syndicates como um ramo subordinado ou conexo às agências. Esse é o modelo que predominou no setor das agências de notícias do Brasil desde o século XIX, quando os syndicates eram aqui chamados de serviços especiais ou serviços telegráficos, depois prosseguiu com a Meridional e a Agência JB, manteve-se com os serviços de revenda de fotos das duas maiores editoras de revista, Abril Press e Manchete Press, e continua até hoje com as agências revendedoras dos grandes jornais (Agência Estado, Folhapress e Agência O Globo). Nos EUA e em outros países, ser um colunista syndicated é posição de grande prestígio, já que suas colunas são distribuídas para publicação simultânea em vários jornais. No Brasil, alguns exemplos consolidados de colunas redistribuídas em syndicate são a do jornalista Cláudio Humberto, que foi porta-voz do presidente Fernando Collor, as de Elio Gaspari e Miriam Leitão. Fora do mercado jornalístico em sentido estrito, os syndicates foram muito relevantes para a distribuição de histórias em quadrinhos, tanto na forma de tirinhas para jornais quanto de histórias propriamente ditas para revistas de coletâneas. O serviço prestado por um syndicate é chamado de syndication, print syndication ou news syndication. Traduções possíveis em português para syndication são distribuição, redistribuição ou redifusão de notícias ou de conteúdos, ou ainda “serviços de imprensa”, como constava na razão social da Agência JB e da Editora Record. O termo “sindicação” é raramente usado, mas está lexicalizado no VOLP.
Tabela
Gênero de despacho que dispõe informações em colunas e linhas. É usado para organizar estatísticas, resultados de jogos, cotações de moedas, previsões do tempo e outras informações brutas. É algo cada vez mais útil para alimentar o jornalismo de dados nos veículos clientes. Em inglês: table; em espanhol: tablas; em francês: tableaux.
Telégrafo
Primeira tecnologia de telecomunicações da história, inovadora ao separar a mensagem do seu suporte, o que viabilizou o modelo de negócio das primeiras agências de notícias (por esse motivo chamadas também de agências telegráficas). Originalmente, o termo “telégrafo” foi usado para designar o telégrafo óptico, também chamado semáforo, criado por Claude Chappe em 1792 na França revolucionária. Só em 1837, com invenções desenvolvidas separadamente por Charles Wheatstone e William Cooke, na Inglaterra, e por Samuel Morse e Alfred Vail, nos Estados Unidos, foi criado o telégrafo elétrico. Essa tecnologia usava a transmissão de impulsos elétricos com durações variadas (curtos e longos) por fios de cobre encapados em cabos de resina mole (borracha e guta-percha) dispostos ao longo de milhares de quilômetros, ou suspensos em postes (telégrafo aéreo) ou depositados no fundo do mar (telégrafo submarino). Em cada ponta das linhas, um aparelho com uma única tecla (interruptor) permitia ao emissor codificar a mensagem pressionando para gerar os impulsos, que viajavam pelos fios. Por essa característica, o telégrafo elétrico inicial era um sistema que só permitia transmissão “ponto a ponto”. Na prática, isso significava que as agências tinham de enviar o mesmo despacho várias vezes, uma para cada cliente. Morse e Vail também inventaram o primeiro código aplicado à conversão dos impulsos elétricos em letras e números – o código Morse. O impacto sociocultural, econômico e político do telégrafo elétrico no século XIX foi imenso, já que permitiu a comunicação a longa distância em intervalos de tempo desprezíveis (questão de minutos para cruzar o oceano) pela primeira vez na experiência humana. Nesse contexto, o telégrafo foi parte das transformações da Revolução Industrial. A primeira agência de notícias a usar o telégrafo elétrico foi a Havas, em 1840, e a tecnologia também motivou a criação da Associated Press (1846), Wolff (1849) e Reuters (1851). No final do século XIX, com invenções de Roberto Landell de Moura, Heinrich Hertz, Aleksandr Popov e Guiglelmo Marconi, o envio dos mesmos sinais por ondas eletromagnéticas (rádio) deu início ao “telégrafo sem fio”, ou radiotelégrafo. Essa continuou sendo a tecnologia de transmissão predominante das agências de notícias até o advento do teletipo.
Teletipo
Aparelho considerado evolução do telégrafo elétrico, mas que imprimia texto legível (em caracteres alfanuméricos) em vez de codificado como no Morse ou Baudot (fita perfurada). Os teletipos predominaram entre os anos 1930 e 1960, sendo sucedidos pelo Telex. A marca de teletipo mais difundida mundialmente foi a alemã Hellschreiber, seguida pela norte-americana Morkrum, adotada na Associated Press.
Telex
Aparelho e rede de telecomunicações que usava a estrutura dos teletipos, mas em máquinas com teclados que permitiam a comunicação bidirecional, ou seja, podiam tanto enviar quanto receber mensagens. Cada agência era designada por um código alfanumérico, e cada aparelho tinha seu próprio “endereço” para direcionar os envios. O texto vinha todo em caixa alta (só maiúsculas) e as máquinas faziam um barulho forte (por isso mesmo, costumavam ficar em salas separadas nas redações). Cada despacho era iniciado pelos metadados escritos e impressos, que orientavam os clientes a como distribuir internamente entre as áreas da empresa (no caso das redações de jornal, esses metadados ajudavam os editores a separar quais despachos iam para cada editoria). A tecnologia foi desenvolvida simultaneamente nos EUA e na Alemanha dos anos 1930, antes da ascensão do nazismo, mas continuou impulsionada nos anos seguintes. No Brasil, a rede Telex foi instalada em 1960, no final do governo Juscelino Kubitschek, atendendo a demandas de várias empresas, entre elas a Agência Meridional, que foi uma das primeiras usuárias. Além das agências de notícias, o Telex também foi muito usado por bancos e representações diplomáticas. Saiu de uso em meados dos anos 1990, com a disseminação da internet e do e-mail. Não tem relação com a marca de aparelhos auditivos homônima.
Testemunhal
Gênero de despacho em que o jornalista da agência relata em primeira pessoa o que observou na apuração. Usado muito raramente, só quando carrega valor informativo, sem carregar na pieguice nem subjetividade. Em inglês: witness; em espanhol: crónica (também usado para reportagem); em francês: compte rendu.
Urgente
É o gênero de despacho com segundo nível de urgência mais alto, abaixo apenas do flash. Costuma não ter mais que dois parágrafos para não demorar a ser enviado, mantendo a celeridade da notícia. Uma recomendação comum nas agências para diferenciá-lo é que o “urgente” é uma notícia muito importante, mas que já era esperada. Em inglês: newsbreak (Reuters), urgent (AP); em espanhol: urgente; em francês: urgent.
Como citar:
AGUIAR, Pedro. Glossário de agências de notícias. História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil [documento eletrônico]. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2025. Disponível em https://agenciasdenoticias.uff.br/glossario/.