O projeto de pesquisa “História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil” foi iniciado na UFF em 2020, de olho nas comemorações do sesquicentenário do jornalismo de agências no Brasil, completado em 2024. A iniciativa tem o objetivo de inventariar e mapear as agências de notícias atuais e passadas que já operaram no Brasil, contemplando tanto as empresas brasileiras quanto as estrangeiras que tiveram atuação no mercado nacional. O projeto é realizado pelo bolsista PIBIC/UFF João Pedro Sabadini, estudante de graduação em Jornalismo, e coordenado pelo professor Pedro Aguiar, do Departamento de Comunicação Social (GCO) e do curso de Jornalismo da UFF.
O trabalho “História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil: resultados de pesquisa hemerográfica (1874-1930)”, produção resultante do projeto, ganhou o 1º lugar no Prêmio José Marques de Melo de iniciação científica em história da mídia, concedido no encerramento do XIV Encontro Nacional de História da Mídia, da Rede AlCar (Rede Alfredo de Carvalho), realizado no campus do Gragoatá da UFF, em Niterói (RJ). O trabalho foi apresentado no GT História do Jornalismo pelo estudante João Pedro Sabadini e pelo orientador Pedro Aguiar.
A meta da pesquisa é compor uma história das agências de notícias brasileiras e das agências de notícias estrangeiras atuantes no Brasil, de forma a fornecer um referencial coeso a ser incorporado à historiografia do jornalismo no país. Em 2024, completam-se 150 anos de jornalismo de agências no Brasil, sem que até agora exista qualquer obra nacional específica que consolide a trajetória desse setor. Incluem-se aqui dois ramos distintos, porém somados: as agências de notícias estrangeiras que a partir de 1874 operaram no Brasil e/ou forneceram serviços à imprensa brasileira (Havas, Reuters, United Press e UPI, Associated Press, EFE, etc.) e as agências de notícias fundadas no Brasil e geridas por brasileiros (AAT, Meridional, Agência Nacional, Agência Brasil, Agência JB, Agência Estado, Folhapress, Agência O Globo).
A pesquisa almeja preencher uma lacuna na historiografia da imprensa e da mídia brasileira, gerando bibliografia de referência para futuros estudos que se concentrem sobre o tema das agências de notícias, ou mesmo de outros trabalhos sobre história da imprensa brasileira em escopos mais abrangentes, de maneira que não precisem “começar do zero” em suas tarefas de contextualização histórica nem seja mais necessário recorrer a fontes exclusivamente estrangeiras para abordar um aspecto da realidade nacional.
O objetivo geral é reunir elementos documentados para a construção de uma síntese histórica sobre a atuação das agências de notícias no Brasil desde o século XIX, tanto as brasileiras quanto as estrangeiras atuantes em território nacional, e que contribua para a historiografia geral da imprensa brasileira. No período de vigência da bolsa PIBIC 2022/2023, foi pesquisado apenas o período 1874-1958, deixando a fase posterior para a vigência 2023/2024, já contemplada por bolsa após trâmite no respectivo edital.
Como objetivos específicos, contam-se:
- A identificação de nomes de agências de notícias atuantes no Brasil no período compreendido da pesquisa;
- A identificação de fontes primárias por meio do aproveitamento do material de agências na imprensa brasileira;
- A identificação de nomes de profissionais, jornalistas, gestores e empresários envolvidos com o setor de agências de notícias no Brasil;
- A identificação de fatos relevantes no desenvolvimento histórico de cada agência individualmente e do setor de agências de notícias como um todo.
Justificativa
O jornalismo de agências é um segmento da profissão jornalística de importância fundamental para as rotinas da produção e de circulação de informação. Elas fornecem todo tipo de material jornalístico (notícias, reportagens, entrevistas, imagens, transcrições de discursos e de documentos, listas e pesquisas factuais, cotações de ações, moedas e mercadorias) que os veículos (jornais, revistas, emissoras, websites), seus assinantes, não conseguem obter por conta própria. São organizações (pois nem todas assumem a natureza jurídica de empresas) de imensa importância por fornecerem à mídia grande parte do noticiário, por garantirem uma estrutura de cobertura midiática permanente e em escala global e por darem visibilidade a acontecimentos, personagens e lugares que cada jornal, emissora ou website individualmente não teria condições de alcançar. São componentes vitais do sistema de mídia da ampla maioria dos países. Em alguns deles, estão entre os espaços profissionais mais prestigiados e são as fontes de informação mais confiáveis para a sociedade.
No Brasil, agências de notícias existem e operam continuamente desde o ano de 1874, quando a primeira empresa do ramo foi criada. Alguns dos mais proeminentes jornalistas, escritores, literatos e intelectuais brasileiros trabalharam em redações de agências de notícias – incluindo-se nesse rol nomes como Quintino Bocaiúva, Olavo Bilac, Sérgio Buarque de Holanda, Monteiro Lobato, Menotti del Picchia, Austregésilo de Athayde, Raul Bopp, Cásper Líbero, Cecília Meireles, Carlos Lacerda e Alberto Dines.
Especificamente na interseção entre Comunicação e História, há uma bibliografia consolidada de história da imprensa e dos demais meios de comunicação no Brasil, abarcando tanto a imprensa comercial quanto a alternativa, os veículos de abrangência nacional e os locais ou regionais, os autônomos e os de grandes grupos empresariais, os existentes e os históricos, já extintos. O jornalismo impresso (jornais e revistas), o radiojornalismo, o telejornalismo e até o jornalismo digital, mais recente, já têm suas histórias publicadas.
Entretanto, apesar da importância já citada, a história das agências de notícias no Brasil ainda não foi organizada em nenhum livro, compêndio ou conjunto condensado de pesquisas. É um tópico sobre o qual persiste imenso vazio na bibliografia e na historiografia do Jornalismo e da Comunicação no Brasil. Os compêndios de história da imprensa que formam o cânone nacional (WERNECK SODRÉ, 1966; BAHIA, 2009) e mesmo obras mais recentes (ROMANCINI e LAGO, 2007; MARTINS e DeLUCA, 2008), de forma geral, passam ao largo de todo o setor empresarial e profissional das agências de notícias e do jornalismo de agências quando recapitulam as organizações, as estruturas, os personagens e os marcos relevantes do jornalismo brasileiro. Esquecem-se ou optam por não abordar as agências brasileiras nem as agências estrangeiras atuantes no Brasil.
A ausência das agências de notícias nas pesquisas publicadas sobre a história do jornalismo no Brasil chama a atenção por uma variedade de motivos. Em primeiro lugar, porque a relevância do setor para a imprensa no país não é pequena, remontando suas origens ao século XIX – e não a meados do século XX, como erroneamente creem alguns dos mais respeitados autores (MORAIS, 1994; BAHIA, 2009). Em segundo lugar, porque as fontes para a reconstrução da trajetória deste segmento da Comunicação estão disponíveis e ainda mais facilitadas desde o início da digitalização das hemerotecas, nas quais se arquiva parte expressiva do material das agências de notícias publicado em jornais e revistas impressos. E, finalmente, porque este vazio bibliográfico brasileiro contrasta com a situação de outros países, não só na Europa e na América do Norte, como na própria América Latina, onde títulos especializados sobre a história dos setores nacionais de agências de notícias vêm sendo publicados neste início do século XXI – como é o caso de obras recentemente lançadas sobre as agências da Argentina (BOTTO, 2012), do México (NOTIMEX, 2015) e do Peru (BARRAZA et al., 2006), países com históricos de agências mais curtos que o do Brasil.
Nessa história ainda não contada, o Rio de Janeiro é um ponto fulcral: aqui foi fundada a primeira agência de notícias do Brasil e da América Latina, a Agencia Americana Telegraphica, pelo diretor do jornal O Globo (um jornal apenas homônimo e não relacionado ao atual diário da família Marinho), em fevereiro de 1874. Em julho do mesmo ano, a instalação do cabo telegráfico submarino que ligou a América do Sul (por Recife) à Europa (por Lisboa) levou as duas maiores agências da época, a britânica Reuters e a francesa Havas, a instalarem uma sucursal conjunta na então corte imperial (AGUIAR, 2020a). Também no Rio, em 1888, surgiu o Centro Telegraphico da Imprensa, segunda agência nacional, que concentrava e daqui irradiava por telégrafo materiais para os jornais das então províncias do Pará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e São Paulo. E a história do setor seguiu em terras fluminenses na República com os serviços telegráficos dos jornais O Paiz, Gazeta de Notícias, Jornal do Commercio e Correio da Manhã, que, à maneira dos syndication services dos jornais norte-americanos, redistribuíam a jornais de outras regiões do país os despachos noticiosos da capital federal e do exterior (AGUIAR, 2020b).
Ao longo do século XX, o Rio de Janeiro também foi palco da maior parte dos desdobramentos da história das agências de notícias no Brasil. Além de abrigar sedes das maiores agências brasileiras antes existentes – em especial a Agência Meridional, do conglomerado Diários Associados, fundada em 1931; a Agência Nacional, do governo federal, criada em 1937; e a Agência JB, estabelecida em 1966 –, a capital fluminense também hospedou as sucursais da maioria das grandes agências internacionais, como a France-Presse, a Associated Press, a UPI, a TASS e a Xinhua, entre inúmeras outras.
Portanto, a pesquisa “História das Agências de Notícias Brasileiras e das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil” vem ao encontro de uma demanda da pesquisa nacional em Comunicação e Jornalismo sobre um tema virtualmente ainda não explorado, de acontecimentos da história da imprensa particularmente concentrados no Estado do Rio de Janeiro, com alto potencial para despertar a vocação científica em discentes de graduação em Jornalismo na produção de conhecimento em sua área de formação.
O objetivo da pesquisa é compor uma história das agências de notícias brasileiras e das agências de notícias estrangeiras atuantes no Brasil, de forma a fornecer um referencial coeso a ser incorporado à historiografia do jornalismo no país. No ano de 2024, comemora-se o aniversário de 150 anos de jornalismo de agências no Brasil, sem que até agora exista qualquer obra nacional específica que consolide a trajetória desse setor.
Incluem-se aqui dois ramos distintos, porém somados: as agências de notícias estrangeiras que a partir de 1874 operaram no Brasil e/ou forneceram serviços à imprensa brasileira (Havas, Reuters, United Press e UPI, Associated Press, EFE, etc.) e as agências de notícias fundadas no Brasil e geridas por brasileiros (AAT, Meridional, Agência Nacional, Agência Brasil, Agência JB, Agência Estado/Broadcast, Folhapress, Agência O Globo etc.).
O estudo baseia-se em pesquisa documental, tendo como fontes os acervos digitalizados de hemerotecas de jornais privados e da Biblioteca Nacional, pelos quais serão realizadas consultas em busca de: 1) notícias provenientes de agências publicadas em impressos; 2) notícias sobre a atuação de agências no Brasil; 3) anúncios, relatórios, editais, prestações de contas e publicidade legal relacionada a agências.
Ao final, pretende-se constituir um conjunto bibliográfico e documental básico, porém abrangente, a tempo de ser divulgado nas comemorações do sesquicentenário do jornalismo de agências no Brasil, em 2024.
Referências bibliográficas
AGUIAR, Pedro. Breve História das Agências de Notícias Estrangeiras no Brasil. In: VI Encontro Regional Sudeste de História da Mídia, 2020. VI Encontro Regional Sudeste de História da Mídia, Anais…, 2020a.
AGUIAR, Pedro. A Longa e Esquecida Tradição do Jornalismo de Agências no Brasil. In: 18º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 2020, Fortaleza. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, Anais…, 2020b.
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica, vol.1: história da imprensa brasileira. 5ª ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009.
BARRAZA, Gerardo. MONTERO, Ricardo; CRUZ, A. Agencias de Noticias: periodismo con precisión y rapidez. Lima: ANDINA/Editora Perú, 2006.
BOTTO, Marcelo. Historia de las Agencias de Noticias: desde su creación hasta el período entreguerras. Coleção Historia del Periodismo Argentino, v.VII. Buenos Aires: Academia Nacional de Periodismo, 2012.
MARTINS, Ana Luiza; DeLUCA, Tania Regina (orgs.). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
MORAIS, Fernando. Chatô: o Rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
NOTIMEX. Las Agencias de Noticias en la Era Digital. Cidade do México: Biblioteca Mexicana del Conocimiento, 2015.
ROMANCINI, Richard; LAGO, Cláudia. História do Jornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2007.
WERNECK SODRÉ, Nelson. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.